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Crítica

PinkPantheress

: "Heaven Knows"

Ano: 2023

Selo: Warner Music UK

Gênero: Pop, Drum and Bass, R&B

Para quem gosta de: Kelela e Erika de Casier

Ouça: Mosquito, Bury Me e Boy's a Liar Pt. 2

7.3
7.3

PinkPantheress: “Heaven Knows”

Ano: 2023

Selo: Warner Music UK

Gênero: Pop, Drum and Bass, R&B

Para quem gosta de: Kelela e Erika de Casier

Ouça: Mosquito, Bury Me e Boy's a Liar Pt. 2

/ Por: Cleber Facchi 20/11/2023

Quando nasceu, em abril de 2001, boa parte dos gêneros apontados como fundamentais para a obra de PinkPantheress viviam seus momentos de decadência. Ainda assim, a cantora, compositora e produtora inglesa encontrou em elementos do drum and bass e 2-step garage uma importante fonte de inspiração para a própria criação. Utilizando de faixas essencialmente curtas, porém, consistentes e orientadas pela força dos sentimentos, a artista acabou conquistando uma posição de destaque dentro da cena britânica, feito reforçado com a apresentação do primeiro trabalho de estúdio da carreira, Heaven Knows (2023).

Produto de uma nostalgia não vivenciada, porém, intimamente conectado ao presente, o trabalho destaca a sensibilidade poética e amadurecimento de PinkPantheress mesmo na curta duração de suas faixas. Para além de outras obras do gênero, em sua maioria centradas em amores desfeitos e momentos de fragilidade emocional, a artista inglesa se permite transitar por diferentes temáticas de forma tão provocativa quanto íntima do pop tradicional. Exemplo disso pode ser percebido na já conhecida Mosquito, canção em que utiliza de um relacionamento conturbado como metáfora para a própria relação com o dinheiro e a fama.

São composições travestidas de um som comercial e radiofônico, mas que ocultam passagens sombrias e direções pouco usuais dentro de um trabalho do gênero. Nona faixa do disco, Feel Complete funciona como uma boa representação desse resultado ao incorporar os danos causados pelo alcoolismo dentro de um relacionamento. “O dinheiro chegou hoje, e então você conseguirá o que deseja / Queria que isso acabasse quando deixasse de ser divertido“, canta. E ela está longe de ser a única. Durante toda a execução do disco há sempre um elemento que busca tensionar criativamente os limites da obra e a interpretação do ouvinte.

Nada que prejudique a entrega de faixas marcadas por temas sentimentais e outras composições menos complexas. É o caso de Capable Of Love. Velha conhecida do público fiel de PinkPantheress, a música que há tempos vinha circulando pela internet surge agora em sua versão definitiva, destacando a sensibilidade dos versos. “Estou obcecada com a ideia de que um dia isso acabará / Porque depois disso, sei que nunca mais serei capaz de amar“, confessa. Canções que servem de passagem para um universo particular, como uma interpretação ainda mais interessante do repertório apresentado na mixtape To Hell With It (2021).

Embora marcado pela particularidade dos temas e forte aspecto confessional, interessante perceber em Heaven Knows o trabalho mais colaborativo de PinkPantheress. Em Bury Me, por exemplo, a artista deixa de lado a fluidez das batidas para investir em um R&B reducionista que ainda se completa pela presença de Kelela. Já em Boy’s a Liar Pt. 2, remix da faixa originalmente lançada no último ano, são as rimas de Ice Spice que levam a canção para um novo território. Isso sem contar o vasto time de produtores que surgem ao longo do registro, como Danny L Harle, Greg Kurstin e Mura Masa, parceiro de longa data da cantora.

Mesmo com toda essa articulação, evidente amadurecimento poético e diálogo com diferentes parceiros criativos, Heaven Knows é uma obra que pouco avança musicalmente em relação aos antigos trabalhos da cantora. Ainda que não pareça um registro formulaico, ao depender de ritmos tão característicos como o drum and bass, PinkPantheress esbarra em pequenas repetições estruturais e músicas dotadas de uma similaridade desconfortável, vide composições como Nice To Meet You. Um misto de limitação e formação da própria identidade artística, direcionamento que acaba se refletindo até os minutos finais do material.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.