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Crítica

Plains

: "I Walked With You a Ways"

Ano: 2022

Selo: Anti-

Gênero: Alt. Country

Para quem gosta de: Angel Olsen e Miranda Lambert

Ouça: Problem With It e Hurricane

8.0
8.0

Plains: “I Walked With You a Ways”

Ano: 2022

Selo: Anti-

Gênero: Alt. Country

Para quem gosta de: Angel Olsen e Miranda Lambert

Ouça: Problem With It e Hurricane

/ Por: Cleber Facchi 26/10/2022

Não é apenas uma fase. Depois da completa mudança de direção durante o lançamento de Saint Cloud (2020), último trabalho de estúdio como Waxahatchee, Katie Crutchfield continua a se aventurar pelo cancioneiro norte-americano, porém, dessa vez acompanhada. Junto da cantora e compositora Jess Williamson, a artista estadunidense entrega ao público I Walked With You a Ways (2022, Anti-), primeiro registro de inéditas do paralelo Plains e um material que não apenas estreita relações com a obra de Loretta Lynn, Dolly Parton e outros nomes do gênero, como potencializa o som produzido pela dupla.

Com uma imagem de capa e título bastante sugestivos, I Walked With You a Way reforça a essência estradeira que tanto caracteriza a música americana. São canções empoeiradas, sempre em movimento, como se do material apresentado em Saint Cloud, também marcado por uma temática bastante similar, Crutchfield e a parceria de composição fossem além. A própria faixa de abertura, com sua atmosfera ensolarada, nasce como um reforço a esse mesmo direcionamento criativo. Instantes em que as duas artistas avançam em uma medida própria de tempo, conceito que se reflete até os minutos finais da obra.

Uma vez transportado para dentro desse ambiente tão nostálgico e referencial quanto íntimo das duas artistas, o ouvinte é convidado a se perder em meio a faixas que tratam o que há de mais delicado nos sentimentos e relações humanas. “Eu faço o meu pior, é verdade / Se eu não estragar tudo / Eu vou voltar para você“, cresce a letra da canção, na já conhecida Hurricane. São versos sempre marcados pela força das emoções, personagens consumidos pela inevitabilidade do fim, momentos de maior melancolia e dor, como um acumulo natural do que há de mais característico e tocante na obra de cada compositora.

A diferença em relação a outros trabalhos do gênero, talvez sufocados pela forte dramaticidade, está na postura sóbria adotado pelas duas artistas. “Não vai ser fácil, querida / E você não vai acreditar / Quando você se despede / O que está pesando em você fortemente“, detalha a letra de Easy, música que sufoca e acolhe o ouvinte na mesma proporção. É como um delicado exercício de exposição emocional, esmero que se reflete até os minutos finais, na autointitulada faixa de encerramento. “Sempre há uma última vez para qualquer coisa que você faça / Nós não notamos no momento / Você saberá depois que terminar“, canta.

Mesmo a base instrumental do disco, sempre diminuta, parece contribuir ainda mais para esse resultado. A exemplo do que havia testado em Saint Cloud, Crutchfield parte de um abordagem acústica, pianos complementares e guitarras discretas, sempre ao fundo das composições. Claro que isso não interfere na construção de composições enérgicas. A própria Problem With It, logo nos minutos iniciais do trabalho, sintetizas de forma bastante característica tudo aquilo que a dupla busca desenvolver ao longo da obra. São momentos de maior agitação que esbarram de forma curiosa na obra de Sheryl Crow e Bonnie Raitt.

E esses pequenos diálogos com o som produzido por diferentes nomes da cena norte-americana estão presentes durante toda a execução do trabalho. É como se Crutchfield e Williamson compartilhassem não apenas sentimentos, mas inspirações, referências e tudo aquilo que contribuiu para a formação de suas respectivas carreiras até a finalização de I Walked With You a Ways. São décadas de histórias e sentimentos que invariavelmente orbitam um universo bastante particular, por vezes íntimo apenas das duas artistas, mas que a todo momento estabelecem vínculos emocionais e estreitam relações com o próprio ouvinte.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.