Image

Ano: 2022

Selo: Universal

Gênero: MPB, Samba, Instrumental

Para quem gosta de: Fabiano do Nascimento

Ouça: Aquarelle: II. Valseana e Assanhado

8.0
8.0

Plínio Fernandes: “Saudade”

Ano: 2022

Selo: Universal

Gênero: MPB, Samba, Instrumental

Para quem gosta de: Fabiano do Nascimento

Ouça: Aquarelle: II. Valseana e Assanhado

/ Por: Cleber Facchi 08/12/2022

Natural do município de Itanhaém, no interior do estado de São Paulo, porém, residente em Londres há oito anos, o violonista Plínio Fernandes não poderia ter pensado em título melhor para o primeiro álbum em carreira solo, Saudade (2022, Universal). Produto do parcial isolamento vivido além-mar e das memórias cultivadas durante a infância e adolescência no Brasil, o registro estabelece nesse delicado cruzamento de informações o estímulo para a construção de um repertório que parte das experiências e sentimentos do músico paulistano, mas que a todo momento estabelece laços emocionais e busca dialogar com o ouvinte.

Inicialmente pensado como um trabalho de reinterpretações da obra de Heitor Villa-Lobos e releituras de composições latino-americanas, como detalhou em entrevista ao jornal O Globo, Saudade, como o título aponta, acabou se transformando em uma compilação das coisas que mais tocam o artista, consumido pela falta “do afeto humano, do clima, da comida, do cheiro, de estar em solo brasileiro“. Não por acaso, Fernandes desfila solitário em parte expressiva da obra, confessando sentimentos por meio de versões melancólicas para criações essenciais da nossa música, entre elas, Garota de Ipanema e Aquarela do Brasil.

Entretanto, livre do saudosismo barato e releituras há muito ancoradas em conceitos incorporados por diferentes artistas, Fernandes estabelece no reducionismo dos elementos a passagem para um território totalmente particular, feito para ser desvendado pelo ouvinte. Exemplo disso fica bastante evidente logo nos minutos iniciais, na adaptação de Beatriz. Com arranjos de Sérgio Assad, a canção originalmente composta por Chico Buarque e Edu Lobo se espalha em meio a movimentos sutis que resultam na formação de ruídos ocasionais, como respiros sufocados que concedem ao disco um caráter labiríntico.

Uma vez imerso nesse cenário tão característico, mesmo canções historicamente marcadas pela força dos vocais se transformam em criações próprias de Fernandes. É o caso de Ponta de Areia. Parte do álbum Minas (1975), um dos grandes exemplares na obra de Milton Nascimento, a canção preserva muito da versão original, porém, segue em um ziguezaguear de informações que evoca o domínio técnico e capacidade de Baden Powell em brincar com o trabalho de outros artistas. O mesmo acontece minutos à frente, no minucioso cruzamento entre Se Todos Fossem Iguais A Você e Águas de Março, de Tom Jobim.

Embora marcado pela construção de músicas que utilizam do reducionismo como principal plataforma criativa, marca de criações como as imersivas Aquarelle: II. Valseana e Recuerdos de Ypacaraí, Saudade possibilita a entrega de faixas que delicadamente rompem com essa lógica. É o caso de Bachianas Brasileiras n.º 5, completa pela participação do violinista e amigo Sheku Kanneh-Mason. São orquestrações sutis que se completam pelo violão versátil de Fernandes. Mesmo o uso da voz, restrita durante toda a execução do trabalho, brilha na delicada releitura de Maria Rita para O Mundo É Um Moinho, de Cartola.

Recebido de forma bastante positiva pelo público – em julho, assim que foi disponibilizado, o trabalho alcançou o topo da parada da Billboard na categoria clássicos –, Saudade não apenas cumpre com eficácia a tarefa de apresentar o som produzido por Fernandes, como aponta uma série de direções e deixa o caminho aberto para os futuros trabalhos do violonista. Próximo e ao mesmo tempo distante de outros nomes da cena brasileira, o músico transita por entre estilos, estreita laços e consolida a própria identidade criativa, esmero que vai da escolha do repertório à estética empoeirada que se conecta ao título da obra.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.