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Crítica

Pom Poko

: "Cheater"

Ano: 2021

Selo: Bella Union

Gênero: Indie Rock, Rock Alternativo, Noise Pop

Para quem gosta de: Deerhoof, Charly Bliss e Marnie Stern

Ouça: Cheater e Like a Lady

8.0
8.0

Pom Poko: “Cheater”

Ano: 2021

Selo: Bella Union

Gênero: Indie Rock, Rock Alternativo, Noise Pop

Para quem gosta de: Deerhoof, Charly Bliss e Marnie Stern

Ouça: Cheater e Like a Lady

/ Por: Cleber Facchi 29/01/2021

Cheater (2021, Bella Union) é o tipo de obra que diz a que veio logo na faixa de abertura do disco. Entre guitarras carregadas de efeitos, ruídos e quebras bruscas, Ragnhild Fangel Jamtveit (vozes), Martin Miguel Almagro Tonne (guitarras), Ola Djupvik (bateria) e Jonas Krøvel (baixo) estabelecem grande parte dos conceitos que serão explorados pelo Pom Poko no segundo e mais recente álbum de estúdio da banda norueguesa. São formações delirantes que incorporam a essência de veteranos como Gang of Four e Deerhoof, porém, preservando a linguagem pop que parece própria do quarteto de Oslo.

Entretanto, é a medida em que o trabalho avança que o grupo norueguês mostra toda sua capacidade dentro de estúdio. Composições que utilizam da voz doce Jamtveit como elemento de contraste ao som torto que movimenta o disco. Exemplo disso acontece em Like A Lady, música que se divide entre momentos de perturbação e leveza, proposta que faz lembrar da criativa sobreposição de ideias que marca a parceria entre Marnie Stern e Zach Hill, vide In Advance of the Broken Arm (2007) e This Is It and I Am It and You Are It and So Is That and He Is It and She Is It and It Is It and That Is That (2008).

Observado de maneira atenta, difícil não pensar em Cheater como uma homenagem ao que há de mais delirante na produção dos anos 2000. São ecos de Lightning Bolt, OOIOO, The Fiery Furnaces e toda uma série de artistas que fizeram de cada novo álbum de estúdio um precioso exercício de experimentação. A principal diferença em relação ao som produzido pelo quarteto norueguês está na forma o grupo parece ter encontrado um ponto de equilíbrio entre a desconstrução dos elementos e faixas sempre convidativas, capazes de dialogar com uma parcela ainda maior do público.

Perfeita representação desse resultado pode ser percebido na sutileza de Danger Baby. São pouco mais de quatro minutos em que o grupo parte de uma base reducionista, garante maior visibilidade à letra confessional de Jamtveit e ainda prepara o terreno para o som labiríntico que escapa das guitarras de Tonne. O mesmo tratamento acaba se refletindo mais à frente, em Body Level. Um misto de caos e leveza que envolve o ouvinte aos poucos, indicativo do completo domínio da banda em relação à própria obra e um salto considerável quando voltamos os ouvidos para o introdutório Birthday (2019).

Claro que essa busca por um som cada vez mais acessível não interfere na produção de músicas deliciosamente estranhas e barulhentas. São músicas como My Candidacy e Andy Go To School em que o quarteto se concentra na fragmentação das ideias e ritmos, mudando de direção a todo instante. Instantes que a própria voz de Jamtveit se transforma em um instrumento, encolhe e cresce a todo instante, sempre acompanhada pelo desenho irregular das guitarras e sintetizadores que surgem em momentos estratégicos da obra, jogando com a interpretação do público.

Evidente ponto de transformação na carreia da banda, Cheater preserva a urgência e jovialidade explícita no disco anterior, porém, reflete a busca do quarteto por uma sonoridade cada vez mais abrangente. São décadas de referências que se moldam de forma a contribuir para o som inexato que escapa das criações do grupo. Composições como Like a Lady, Danger Baby e a própria faixa-título que talvez sejam capazes de estreitar a relação com o ouvinte, mas que em nenhum momento tendem ao obvio, proposta que faz da completa ausência de certeza o elemento central do trabalho.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.