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Crítica

Pom Pom Squad

: "Death of a Cheerleader"

Ano: 2021

Selo: City Slang

Gênero: Indie Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Bully e Soccer Mommy

Ouça: Crying, Drunk Voicemail e Be Good

7.0
7.0

Pom Pom Squad: “Death of a Cheerleader”

Ano: 2021

Selo: City Slang

Gênero: Indie Rock, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Bully e Soccer Mommy

Ouça: Crying, Drunk Voicemail e Be Good

/ Por: Cleber Facchi 16/07/2021

Inspirada de maneira confessa pela estética e iconografia da garota colegial, Mia Berrin encontrou as bases para a personagem sutilmente detalhada nas canções de Death of a Cheerleader (2021, City Slang). Primeiro álbum de estúdio da cantora e compositora norte-americana como Pom Pom Squad, o registro de essência agridoce parte de uma abordagem quase caricatural e cinematográfica, porém, em nenhum momento distancia o público da realidade, tratamento que se reflete em cada mínimo fragmento poético que embala a experiência do ouvinte. São diferentes histórias de amor, conflitos sentimentais e momentos de maior vulnerabilidade, como um acumulo natural de tudo aquilo que a artista tem experienciado desde o início da adolescência à recente passagem para a vida adulta.

Estou me contorcendo fora da minha pele / Isso está realmente acontecendo comigo? / Estou aprendendo a ser alguém em quem posso confiar“, canta logo nos primeiros minutos da obra, em Head Cheerleader, música que sintetiza parte desse processo de transformação vivido pela artista nos últimos anos. Instantes em que Berrin oscila entre memórias de um passado ainda recente e versos que vislumbram um futuro esperançoso. “Se realmente dependesse de mim / Só porque você sabe o que quer, não significa que você pode escolher“, completa enquanto camadas de guitarras e batidas rápidas potencializam a construção dos versos, como um avanço claro em relação ao material entregue pela artista durante o lançamento do último EP de inéditas, o ainda recente Ow (2019).

Partindo dessa abordagem, Berrin orienta a experiência do ouvinte até os últimos segundos do trabalho. São canções em que a artista nova-iorquina e seus parceiros de banda, Mari Alé Figeman, Shelby Keller e Alex Mercuri, não economizam na ferocidade dos arranjos, arremessando o ouvinte de um canto a outro da obra. Exemplo disso acontece em Shame Reactions. Enquanto os versos ecoam de forma provocativa – “Ela tem gosto de carne / Ela tem gosto de sangue / Ela tem um gosto tão doce” –, guitarras e batidas rápidas vão da crueza do Arctic Monkeys, em Favourite Worst Nightmare (2007), às pequenas explosões que abasteceram a obra do Sleater-Kinney entre o final dos anos 1990 e início da década seguinte, vide registros como Dig Me Out (1997) e All Hands on the Bad One (2000).

Embora evidente durante toda a execução do álbum, esse direcionamento raivoso não distancia Berrin de outras composições marcadas pela sutileza dos elementos. É o caso de Be Good. Utilizando da mesma estrutura que embala a introdutória Soundcheck, a canção se espalha em meio a arranjos enevoados e vozes cuidadosamente trabalhadas dentro de estúdio, lembrando os momentos de maior acolhimento propostos por Annie Erin Clark nos primeiros anos como St. Vincent. O mesmo tratamento, porém, preservando o diálogo com o restante da obra, acaba se refletindo em Second That, canção regida pela economia dos elementos e versos confessionais. “Eu tento ficar feliz, mas estou triste, triste pra caralho / Porque eu não consigo parar de me apaixonar por você“, canta.

Vem justamente desse equilíbrio entre momentos de maior urgência e formatações delicadas a passagem para algumas das principais composições do disco. Perfeita representação desse resultado acontece em Drunk Voicemail. Embora preserve a crueza explícita no restante da obra, a canção cresce no lirismo confessional e boas melodias detalhadas por Berrin. A própria Head Cheerleader, logo na abertura do disco, utiliza de uma abordagem bastante similar, ecoando em meio a vozes cantaroláveis e guitarras cuidadosamente trabalhadas em estúdio. É como se a cantora resgatasse tudo aquilo que foi apresentado nas canções de Ow, porém, partindo de uma estrutura ainda mais complexa, esmero que se reflete mesmo em faixas mais curtas, como This Couldn’t Happen.

Embora repleto de bons momentos e composições guiadas pelos sentimentos mais honestos de Berrin, Death of a Cheerleader ainda é um registro que depende em excesso das inspirações e referências incorporadas pela artista. Da escolha dos temas à construção dos arranjos, não há nada aqui que veteranos como The Breeders, Liz Phair e Hole já não tenham testado anteriormente de forma ainda mais expressiva. Mesmo nomes recentes, como Bully e Soccer Mommy, trilharam caminhos bastante similares, o que garante ao álbum uma sensação de desgaste. Um trabalho que facilmente cairia no esquecimento se não fosse a direção criativa e minucioso envelopamento estético que orienta as criações de Pom Pom Squad para além dos limites das próprias canções.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.