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Ano: 2021

Selo: Mom + Pop

Gênero: Eletrônica, Synthpop, Electropop

Para quem gosta de: Madeon, Passion Pit e The 1975

Ouça: Get Your Wish e Musician

7.5
7.5

Porter Robinson: “Nurture”

Ano: 2021

Selo: Mom + Pop

Gênero: Eletrônica, Synthpop, Electropop

Para quem gosta de: Madeon, Passion Pit e The 1975

Ouça: Get Your Wish e Musician

/ Por: Cleber Facchi 04/05/2021

Em 2015, consumido pela depressão e outros problemas relacionados à própria saúde mental, Porter Robinson, então com 23 anos, uma carreira bem-sucedida e apresentações espalhadas por diversos festivais, decidiu se distanciar os palcos e estúdio em busca de tratamento. Salve criações aleatórias, como Shelter, parceria com o amigo e também produtor Madeon, pouco foi apresentado pelo artista da Carolina do Norte após o lançamento de Worlds (2014). Vem justamente desse período de forte instabilidade emocional, recolhimento e busca por novas abordagens criativas que o músico norte-americano encontrou as bases para o delicado Nurture (2021, Mom + Pop), trabalho em que desenvolve lírica e musicalmente parte das experiências sentimentais vividas nos últimos anos.

Quando a glória tenta te seduzir / Pode parecer o que você necessite / Mas se a glória te faz feliz / Por que você está tão quebrado?“, questiona em Get Your Wish, uma das primeiras composições produzidas pelo artista após o longo período de hiato e uma síntese conceitual de tudo aquilo que Robinson busca desenvolver ao longo do disco. “Quando comecei a escrever esse álbum, estava lutando com algumas questões pesadas: por que estou me matando por isso? O que eu espero que aconteça que ainda não aconteceu? Por que eu preciso me provar novamente? A resposta que cheguei você pode ouvir nessa música“, comentou em entrevista. Declaradamente inspirada pelas criações de Bon Iver, em 22, a Million (2016), a canção estabelece na manipulação das vozes e uso delicado dos sintetizadores a base para tudo aquilo que o produtor apresenta ao longo do registro. Instantes de maior instabilidade, porém, pontuados por momentos de maior comoção e entrega.

E isso fica bastante evidente à medida em que o trabalho avança. São canções como Mother (“Eu estou do seu lado para o resto da sua vida / Você nunca estará sozinho“) e Sweet Time (“Mas desde que te conheci / Eu não quero morrer mais“) em que Robinson parece confortar o ouvinte, efeito direto do maior refinamento dado aos arranjos e versos sempre confessionais. Composições em que estreita a relação com membros da própria família e amigos, fazendo da minuciosa seleção de temas incorporados ao longo do álbum o estímulo para um registro de linguagem universal. Mesmo quando se distancia do uso das palavras, como na atmosférica Wind Tempos, evidente é o esforço do artista em produzir uma obra acolhedora, leveza que se reflete até a derradeira Trying to Feel Alive.

Uma vez imerso nesse cenário marcado pela constante sensação de acolhimento, Robinson aproveita para estreitar a relação com uma série de colaboradores e amigos próximos. É o caso de Sarah Midori Perry e Gus Lobban, do Kero Kero Bonito, com quem divide uma das principais criações do álbum, a colorida Musician, composição que parece saída do ótimo A Brief Inquiry Into Online Relationships (2018), do grupo britânico The 1975, efeito direto do tratamento dado às melodias, batidas e vozes. Mais à frente, em Unfold, chega a vez de Orlando Higginbottom, do Totally Enormous Extinct Dinosaurs, assumir parte da produção da música que encanta pelo encaixe das batidas, ruídos eletrônicos e texturas que garantem maior profundidade ao fino repertório apresentado em Nurture.

Embora sensível e musicalmente coeso durante toda sua execução, o sucessor de Worlds tropeça pelo excesso de canções. São músicas como Dullscythe e Do-re-mi-fa-so-la-ti-do que, mesmo graciosas, pouco contribuem para o desenvolvimento da obra, dando voltas em torno de temas e conceitos previamente apresentados por Robinson em canções mais bem-sucedidas. Mesmo Blossom, com seus violões e melodias acústicas, parece mais uma sobra de estúdio do que um registro necessário para o crescimento de Nurture. O resultado desse processo está na entrega de um álbum que se estende para além do necessário, diminuindo o impacto de composições empurradas para o bloco final do trabalho, como Mirror, com suas batidas tortas e a já conhecida Something Comforting.

Mesmo excessivamente longo, Nurture mantém firme o forte caráter emocional durante toda sua execução. É como se o produtor transportasse para dentro de estúdio o que há demais doloroso e sensível nas próprias vivências. Canções que falam sobre amor, morte, dor e reconciliação sem necessariamente esbarrar em uma abordagem formulaica e previsível, talvez íntima dos exageros impressos na fase mais recente de veteranos como Coldplay. Nesse sentido, Robinson parece dialogar de forma bastante expressiva com as criações de Michael Angelakos, do Passion Pit, e Matty Healy, do já citado The 1975. Composições essencialmente densas em se tratando da construção dos versos, porém, acessíveis no direcionamento dado às melodias e temas eletrônicos, produto de uma obra marcada pelo uso de pequenos contrastes e que ganha maior profundidade a cada nova audição.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.