Ano: 2024
Selo: Get Beter
Gênero: Indie Rock, Power Pop
Para quem gosta de: Charly Bliss e Snail Mail
Ouça: TV on TV e The Big Stage
Ano: 2024
Selo: Get Beter
Gênero: Indie Rock, Power Pop
Para quem gosta de: Charly Bliss e Snail Mail
Ouça: TV on TV e The Big Stage
O título de estreante obviamente não se aplica ao trabalho de Rachel Gagliardi. Ainda que Forgot About Me (2024, Get Better) seja o primeiro álbum de estúdio da cantora e compositora norte-americana utilizando da identidade de Pouty, a musicista acumula passagens em diferentes projetos da cena estadunidense. De colaborações com Michelle Zauner nos primeiros anos do Japanese Breakfast, passando pela formação de bandas como Slutever e Upset, essa última, composta por artistas que passaram por projetos de peso como Hole e Vivian Girls, sobram importantes contribuições criativas de Gagliardi no decorrer da última década.
Apesar do longo histórico, interessante perceber em Forgot About Me a entrega de um registro marcado pelo frescor. Inaugurado com relativa timidez, utilizando apenas das vozes e guitarras de Gagliardi, Salty logo explode em uma deliciosa combinação que atravessa o power pop dos anos 1970 para dialogar com o som pegajoso de veteranos como Weezer ou mesmo nomes ainda recentes, vida e forte similaridade com a obra do Charly Bliss. É como um permanente olhar para o passado, mas que em nenhum momento perde o contato com o presente, conceito reforçado em The Big Stage, canção que evoca e ainda atualiza o Pixies.
Menos urgente do que a impactante sequência, Bridge Burner desacelera para destacar o forte aspecto sentimental da obra de Gagliardi. “Você é apenas poeira para mim, uma distorção do passado“, canta a artista em meio a versos que tanto poderiam pertencer à Olivia Rodrigo como aos primeiros trabalhos do Best Coast. É como uma curva delicada em relação ao restante do material, mas que logo desemboca na urgência de Virgos Need More Love, composição que mais uma vez posiciona as guitarras e vozes em primeiro plano, porém, destacando a bateria de Jarret Nathan que aqui assume diferentes formatações.
Com a energia do disco em alta, Denial is a Heavy Drug mais uma vez destaca a potência criativa da obra de Gagliardi. Ainda que a base da canção pouco acrescente quando próxima das criações de veteranas como Liz Phair e Hole, sobrevive na forte vulnerabilidade dos versos um elemento totalmente identitário, íntimo das temáticas exploradas pela artista. Esse mesmo caráter emocional se percebe na dobradinha formada por I Can’t See It e Kill a Feeling. São duas composições essencialmente curtas, porém, efetivas, como se a cantora soubesse exatamente que direção seguir durante toda a execução de Forgot About Me.
Exemplo disso fica mais do que evidente com a chegada de TV on TV, oitava composição do trabalho. Já conhecida do público fiel da cantora, a faixa não apenas soa como uma síntese criativa de tudo aquilo que Gagliardi busca desenvolver ao longo do registro, com suas guitarras tão nostálgicas quanto atuais, como estabelece na construção dos versos um divertido olhar para o passado. “Califórnia / Como eu quero ser / Estamos vivendo como os anos noventa / Estou me sentindo assim Courtney“, canta em meio a citações à Courtney Love e outras referências que ajudam a entender a essência da sonoridade explorada por Pouty.
Escolhida como música de encerramento do disco, Underwear mais uma vez destaca o lado contido dos arranjos, porém, cresce na formação dos versos que destacam a capacidade de Gagliardi em tratar das próprias emoções com melancolia e bom humor. “Quero conversar com alguém / Mas ninguém se sente mais bem / Preciso me concentrar no ponto / Mas por favor, deixe-me fumar esse baseado“, canta. São sentimentos sempre contrastantes, por vezes confusos, ainda que coerentes com a realidade instável em que vivemos. Uma inquietante combinação de ideias, conflitos particulares e temas instrumentais que, contrário ao título do próprio álbum, fazem de Forgot About Me uma obra que é tudo, menos esquecível.
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.