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Crítica

Pratagy

: "Curado ou Distraído"

Ano: 2023

Selo: Selo Caqui

Gênero: Pop Rock

Para quem gosta de: Silva e Rubel

Ouça: Sonhei Com Você e Te Amo

7.7
7.7

Pratagy: “Curado ou Distraído”

Ano: 2023

Selo: Selo Caqui

Gênero: Pop Rock

Para quem gosta de: Silva e Rubel

Ouça: Sonhei Com Você e Te Amo

/ Por: Cleber Facchi 06/12/2023

Hoje não vou chorar“, canta Pratagy logo nos momentos iniciais de Um Objeto No Céu, composição de abertura em Curado ou Distraído (2023, Selo Caqui), quarto e mais recente álbum de estúdio do cantor e compositor paraense. Embora parte integrante de uma obra maior que transita por diferentes temáticas e sentimentos, difícil não pensar nesse verso inicial como um indicativo claro do caminho percorrido pelo artista ao longo do material. Contraponto ao homônimo trabalho entregue há quatro anos, o registro de sete faixas chama a atenção pelo caráter libertador das letras que se conectam diretamente ao título do disco.

Em geral, são criações confessionais que buscam pela iluminação de um novo amor após um período de dor e forte instabilidade emocional. “Alguém me disse / Que fica tudo bem … Encontrei sentido em partir / Mais do que chegar“, canta na própria faixa-título do trabalho, música que se aprofunda ainda mais nas experiências sentimentais e no amadurecimento vivido pelo eu lírico, como um precioso componente de acolhimento e diálogo com o ouvinte. Frações poéticas que partem de um contexto romântico, mas que em nenhum momento parecem limitadas apenas a isso, ampliando consideravelmente os limites do registro.

Velha conhecida do músico paraense, Te Amo, apresentada isoladamente há dois anos, funciona como uma boa representação desse resultado. Enquanto os arranjos se revelam ao público em uma medida própria de tempo, versos meticulosos tratam sobre crescimento pessoal e a necessidade de externalizar o que se esconde no fundo do peito. “Não devia ser / Difícil dizer / Te amo / Como minha mãe diz / Como meu pai o fez“, canta. Nesse sentido, difícil não pensar em Curado ou Distraído como a etapa final de uma jornada sentimental iniciada nos introdutórios Pictures (2016) e Búfalo (2017), porém, finalizada somente agora.

São canções consumidas pela dor, repletas de cicatrizes e memórias de um passado ainda recente, mas que destacam o esforço do artista em seguir em frente. “Já não tenho pressa / Vou no meu andar / E olho pros mistérios / Que o céu nos dá“, cresce a letra de Sonhei Com Você, delicada colaboração com Ale Sater, vocalista da Terno Rei, e uma boa representação desse resultado. Mesmo quando esbarra em momentos de maior melancolia, como em Pra Quê Tanto Alarme?, evidente é a mudança de postura e sobriedade poética que orienta a construção dos versos, como uma resposta aos antigos trabalhos apresentados pelo músico.

Satisfatório notar essa mesma consistência no processo de formação dos versos aplicada ao tratamento dado aos arranjos. Como indicado logo na abertura do disco, na introdutória Um Objeto No Céu, Curado ou Distraído posiciona os teclados sempre em primeiro plano, como um complemento natural aos temas sentimentais que embalam a experiência do ouvinte. Claro que isso tem lá seus riscos, vide o andamento moroso adotado em parte das canções, direcionamento que facilmente poderia comprometer o ritmo do trabalho não fosse a escolha do artista em investir na produção de um repertório essencialmente enxuto.

Vem justamente dessa curta duração um dos grandes acertos de Curado ou Distraído, como um convite quase que instantâneo ao regresso a fim de saborear todas as nuances e pequenos detalhes escondidos ao longo do material. Da guitarra atmosférica que surge em momentos estratégicos de Balada, passando pela percussão caprichada e vozes complementares de Malu Gadelha em Só Pode Ser Assim, não são poucos os momentos em que Pratagy encanta pela inserção de pequenos acréscimos. Pinceladas instrumentais que concedem ainda mais delicadeza ao que se manifesta de forma bastante sensível na construção dos versos.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.