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Crítica

Pusha T

: "It’s Almost Dry"

Ano: 2022

Selo: G.O.O.D. MUSIC / Def Jam

Gênero: Hip-Hop, Rap

Para quem gosta de: Kanye West e Jay-Z

Ouça: Dreamin Of The Past e Open Air

8.0
8.0

Pusha T: “It’s Almost Dry”

Ano: 2022

Selo: G.O.O.D. MUSIC / Def Jam

Gênero: Hip-Hop, Rap

Para quem gosta de: Kanye West e Jay-Z

Ouça: Dreamin Of The Past e Open Air

/ Por: Cleber Facchi 05/05/2022

A última vez que ouvimos um novo álbum de Pusha T, Daytona (2018), o rapper norte-americano não economizou. Da polêmica imagem de capa que custou 85 mil dólares, uma fotografia tirada no banheiro Whitney Houston durante um período de forte instabilidade emocional e constantes abusos de drogas vividos pela cantora, passando pela construção dos versos, sempre consumidos por substâncias ilícitas e sexo, cada fragmento do registro que contou com a produção de Kanye West parecia pensado para potencializar a crueza das rimas. Um delirante exercício criativo que ganha novo tratamento nas canções de It’s Almost Dry (2022, G.O.O.D. MUSIC / Def Jam), quarto e mais recente trabalho de estúdio do artista.

Menos urgente em relação ao trabalho entregue há quatro anos, o registro preserva a essência do álbum que o antecede, porém, aporta em novos territórios criativos, colaboradores e temáticas. Parte dessa mudança de direção vem da escolha do próprio rapper em preservar a relação de longa data com West, com quem tem contribuído desde o fim dos anos 2000, e ainda dividir parte da produção do disco com Pharrell Williams. O resultado dessa combinação de ideias está na entrega de uma obra essencialmente dinâmica, estrutura que tende a favorecer a construção das rimas e narrativas detalhadas por Pusha T.

E isso fica bastante evidente logo nos minutos iniciais da obra, na introdutória Brambleton. Com produção de Williams, a faixa segue de onde o rapper parou no disco anterior, mergulhando em memórias de um passado ainda recente e conflitos com o antigo empresário, Anthony ‘Geezy’ Gonzales. São versos sempre minuciosos e descritivos, estrutura que parte das vivências detalhadas pelo artista para formar imagens bastante nítidas na cabeça do ouvinte. Um permanente cruzamento de informações vai da já conhecida relação de Pusha T com o tráfico ao trabalho como integrante do Clipse, colaboração com No Malice.

Coincidência ou não, sobrevive justamente nas canções assinadas em parceria com Williams a passagem para o lado mais provocativo e documental da obra. De um lado, criações que exaltam conquistas pessoais e pequenos excessos, caso de Neck & Wrist, música em que divide os versos com o próprio produtor e Jay-Z. No outro, faixas em que resgata memórias da infância e adolescência, como na sombria Open Air, composição que mais se aproxima do repertório entregue pelo artista em Daytona. “Vendendo cocaína ao ar livre, os barcos estão lá / As notas estão lá, sim, as cordas estão lá / Eles vão morrer / Está pronto?“, rima.

Por sua vez, ao mergulhar nas composições em que conta com produção assinada por West, Pusha T passa a investir em um repertório marcado pelo forte aspecto contemplativo. Perfeita representação desse resultado acontece em Dreamin Of The Past, música originalmente composta para Donda (2021), porém, perfeitamente adaptada para It’s Almost Dry. Mesmo a base instrumental do trabalho assume um rumo diferente, destacando o habitual uso de samples incorporado pelo velho colaborador. Canções como a derradeira I Pray for You, com Labrinth e No Malice, que transportam o registro para um novo território.

Entregue ao público em diferentes versões, com Pusha T destacando a separação entre o material produzido entre West e Williams, It’s Almost Dry concentra o que há de mais característico na obra do rapper. Enquanto os versos se aprofundam em conflitos pessoais, memórias e momentos de maior celebração, potencializando tudo aquilo que tem sido explorado desde My Name Is My Name (2013), estreia em carreira solo, fragmentos de vozes e batidas mudam de direção a todo instante. É como uma permanente sobreposição de ideias, rimas e costuras rítmicas, conceito que vai da imagem de capa do disco, uma criação de Sterling Ruby, a cada mínimo componente que serve de sustento ao trabalho.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.