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Crítica

Putodiparis

: "Putodiparis"

Ano: 2021

Selo: Criasom

Gênero: Hip-Hop, Rap, Brime

Para quem gosta de: SD9, LEALL e Febem

Ouça: Putaria e Chico Buarque Interlúdio

8.3
8.3

Putodiparis: “Putodiparis”

Ano: 2021

Selo: Criasom

Gênero: Hip-Hop, Rap, Brime

Para quem gosta de: SD9, LEALL e Febem

Ouça: Putaria e Chico Buarque Interlúdio

/ Por: Cleber Facchi 10/09/2021

Nome em ascensão na cena carioca e colaborador de artistas como LEALL e DaSiria, Putodiparis entrega ao público sua maior obra. Pelo menos até agora. Autointitulado, o registro de oito faixas sustenta na suculência da rima e uso calculado das batidas a passagem para um território há muito desvendado pelo rapper fluminense. Como indicado durante o lançamento do EP Madame (2020), há poucos meses, são canções que atravessam as ruas do Rio de Janeiro em meio a correntes de ouro, tiros de fuzil e versos sempre perfumados pelo sexo. Um minucioso exercício criativo que ganha ainda mais destaque no flow hipnótico e descritivo que conduz com naturalidade a experiência do ouvinte.

E isso fica bastante evidente antes mesmo que a faixa de introdução chegue ao fim. São pouco mais de dois minutos em que o rapper carioca passeia em meio a versos deliciosamente explícitos, reforçando a construção imagética das rimas. “Ela quer dar pro Putodiparis / Ela vem do Projac, ela é atriz / Minha tchutchuca preta cor do Bis“, detalha. É como um preparativo para o fechamento da canção, quando o ato se consuma e o artista abre passagem para o restante da obra. “Ela tá se envolvendo e a xereca tá tremendo / Eu mergulho igual Nemo, grita meu vulgo gemendo / Tchutchuquinha lá do centro, ela pede joga dentro / Sou postura, não marrento“, completa.

São fragmentos de vozes e batidas que preparam o terreno para o material revelado minutos à frente, em Putaria. Regida em essência pela produção minuciosa de VT no Beat, a canção de base cíclica ganha forma em meio versos que se distanciam de qualquer traço de pudor, arremessando o ouvinte para dentro do território sujo narrado pelo rapper. “Tô fudendo duas horas, mas não passou da metade / Aventureira como Dora, pede sexo à vontade / Ela me pede Pandora, mandei vim colar da K’ / Fuma planta, fuma flora, goza leite Parmalat“, rima. Um misto de sexo, delírio e ostentação, como uma releitura ainda mais interessante dos temas explorados na já conhecida Tubo de Lança.

Com a chegada de Sr. Armani & Sheik S Freestyle, parceria com DaSiria, Putodiparis rompe momentaneamente com a poesia lasciva do restante da obra para mergulhar em um cenário enevoado pelo vapor das drogas e da fumaça que escapa do canos de fuzis – “cocaína branca Hannah Montana / Vendendo pó igual Tony Montana / Você usando igual Maradona / Na casa de endola, separando gramas”. É como um preparativo para o deboche em Chico Buarque Interlúdio, em que adapta trechos da música Construção, do sambista carioca. “Trafiquei daquela vez como se fosse a última / O AR tá cantando como fosse música / Gerente lá na boca é um cargo público“, brinca.

Uma vez imerso nesse cenário, Putodiparis dispara a sequência composta por Talibã e Pistolas. São pouco mais de quatro minutos em que o artistas mais uma vez passeia em meio a memórias de um passado ainda recente (“Ontem eu brincava de chapinha, hoje eu dou tiro de pistola“), versos provocativos (“Vou passar no teu grelin’ o cavanhanque e meu bigode“), conquistas (“Tô cansado de usar Nike agora só uso Armani“) e excessos (“Quilos de Skunk dentro do meu porta-mala / O cheiro exala, dentro do Opala“). É somente com a chegada de Medley, um funk em parceria com Pior Versão de Mim, que o trabalho muda de direção e rompe com a estrutura reducionista do restante da obra.

A mesma mudança de direção acaba se refletindo na derradeira Raul Gil. Uma das primeiras composições do disco a serem apresentadas ao público, a faixa utiliza de uma abordagem parcialmente distinta quando próxima do bloco inicial do disco, porém, incorpora uma série de outros elementos, rimas e temáticas exploradas pelo rapper em parte expressiva da obra. Uma delirante combinação de drogas, armas, sexo e conquistas pessoais, proposta que dialoga diretamente com a imagem de capa do álbum, uma releitura de Doggystyle (1993), de Snoop Dogg, e que ainda funciona como uma síntese conceitual de tudo aquilo que Putodiparis busca desenvolver ao longo do registro.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.