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Crítica

Ravyn Lenae

: "Bird's Eye"

Ano: 2024

Selo: Atlantic

Gênero: R&B

Para quem gosta de: Tinashe e NAO

Ouça: One Wish e Love Me Not

8.0
8.0

Ravyn Lenae: “Bird’s Eye”

Ano: 2024

Selo: Atlantic

Gênero: R&B

Para quem gosta de: Tinashe e NAO

Ouça: One Wish e Love Me Not

/ Por: Cleber Facchi 21/08/2024

Bird’s Eye (2024, Atlantic) é exatamente o tipo de obra que você poderia esperar de Ravyn Lenae. Direto ao ponto, o sucessor de Hypnos (2022) diz a que veio logo nos minutos iniciais, em Genius. São batidas e vozes cuidadosamente encaixadas, indicando a firmeza e domínio criativo da artista, porém, preservando o forte aspecto sentimental, conceito reforçado com a entrega da faixa seguinte, Bad Idea, um R&B eletrônico que mais uma vez destaca a fluidez e capacidade da cantora em seduzir o ouvinte em pouquíssimos segundos.

Embora marcado pela aceleração dos elementos, proposta que aproxima Lenae de Tinashe, Kelela e outros nomes da cena norte-americana, sobrevive nos momentos de maior suavidade a construção de algumas das principais faixas do disco. É o caso de One Wish, delicada parceria com Childish Gambino que reforça o aspecto sentimental de Bird’s Eye. “Não importa o quanto eu tente / Não consigo te esquecer“, confessa enquanto prepara o terreno para Dream Girl, parceria com Ty Dolla $ign que destaca a riqueza das batidas.

Menos expressiva, porém, ainda interessante, Candy desacelera para incorporar elementos de reggae em um claro exercício de Lenae em ampliar os próprios domínios. É como um preparativo para o que se revela de forma ainda mais interessante na canção seguinte, Love Is Blind. Soando como uma música perdida de NAO, efeito direto da forte similaridade das vozes, a composição avança em uma medida própria de tempo, porém, sustenta na sobreposição das batidas uma riqueza poucas vezes antes vista nas criações da artista.

Esse mesmo capricho no processo de composição fica ainda mais explícito em Love Me Not, faixa que, mais uma vez, posiciona a bateria em primeiro plano e ainda dialoga com o soul dos anos 1960, proposta que faz lembrar de nomes como Amy Winehouse e Noisettes. Nada que distancie Lenae do presente durante muito tempo, vide a chegada da posterior From Scratch, um soul reducionista que estabelece no cruzamento da guitarra com a bateria um direcionamento criativo que muito se assemelha aos trabalhos de Nilüfer Yanya.

Com a chegada de 1 Of 1, Lenae continua a se aventurar criativamente em estúdio. Composta em parceria com Steve Lacy, com quem tem colaborado desde o EP Crush (2018), a faixa leva o neo-soul da artista para outras direções, efeito direto da base eletrônica que rompe com qualquer traço de conforto. Pena que esse particular senso de transformação não pode ser percebido na canção seguinte, Pilot, um R&B macio, mas que pouco acrescenta quando próximo de outras composições que abastecem o repertório de Bird’s Eye.

Exemplo disso fica ainda mais evidente com a chegada da derradeira Days. Embora limitada musicalmente, a canção encanta pela força dos versos trabalhados por Lenae. “Nada dentro de mim leva de volta a você / Você disse adeus para mim, o que eu perdi?“, canta em um delicado exercício de exposição emocional. São letras sempre consumidas pelos sentimentos da artista, proposta que destaca a vulnerabilidade da cantora durante toda a execução do material e delicadamente acaba servindo para estreitar laços com o ouvinte.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.