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Crítica

Real Estate

: "Daniel"

Ano: 2024

Selo: Domino

Gênero: Indie Rock, Jangle Pop

Para quem gosta de: Ducks Ltd. e Beach Fossils

Ouça: Water Underground e Freeze Brain

7.6
7.6

Real Estate: “Daniel”

Ano: 2024

Selo: Domino

Gênero: Indie Rock, Jangle Pop

Para quem gosta de: Ducks Ltd. e Beach Fossils

Ouça: Water Underground e Freeze Brain

/ Por: Cleber Facchi 12/03/2024

Mais de uma década após o lançamento do que talvez seja uma de suas principais criações, o álbum Atlas (2014), os integrantes do Real Estate continuam a investir no mesmo repertório melódico. Exemplo disso fica bastante evidente com a chegada de Daniel (2024, Domino). Primeiro registro de inéditas do quinteto estadunidense desde The Main Thing (2020), trabalho que acabou engolido pelo avanço da pandemia de Covid-19, o disco de onze faixas chama a atenção pelo equilíbrio entre conforto e fino toque de renovação.

Gravado em um intervalo de duas semanas na cidade de Nashville, no Tennessee, o trabalho que contou com a produção assinada por Daniel Tashin, parceiro de longa data da cantora Kacey Musgraves, parece ter encontrado nessa forte relação com a música country, historicamente associada ao cenário local, um importante componente de transformação para o grupo formado por Martin Courtney, Alex Bleeker, Matt Kallman, Julian Lynch e Sammi Niss. O próprio uso de arranjos acústicos torna isso ainda mais explícito.

Em geral, são canções que destacam a precisão dos instrumentos e vozes cristalinas que mergulham em relações mundanas, conflitos pessoais e momentos de maior vulnerabilidade emocional. “Isso nunca tem fim / Dentro do ovo pintado há outro ovo / Tudo depende / Só de estar aqui, você já é derrubado“, canta Courtney na introdutória Somebody New, composição que sintetiza parte dos temas e angústias que serão incorporados pela banda no decorrer do trabalho e revelados ao público até a chegada de You Are Here.

É como uma extensão atualizada dos temas psicodélicos que embalam as criações do Real Estate desde o autointitulado registro de estreia, porém, partindo de um acabamento que substitui a proposta litorâneo de outrora por um material voltado ao cancioneiro norte-americano. A própria Haunted World, com suas guitarras slide e base acústica, funciona como uma boa representação desse resultado. Instantes em que o grupo vai de encontro ao mesmo território explorado pelo The Byrds em Sweetheart of the Rodeo (1968).

Claro que essa propositada mudança de direção em nenhum momento interfere na produção de músicas ainda íntimas dos antigos trabalhos do quinteto. É o caso de Water Underground, com suas harmonias de vozes e guitarras estridentes que resgatam a essência de registros como Days (2011) e In Mind (2017). A própria Flowers, marcada pelo charme das guitarras em primeiro plano, é outra que poderia facilmente ser encontrada no repertório de Atlas, soando como uma viagem temporária rumo ao passado do Real Estate.

Entretanto, curioso perceber nos momentos em que mais o grupo se afasta desse resultado o estímulo para algumas das principais composições do disco. É o caso de Freeze Brain, música que chama a atenção pelo direcionamento dado à bateria, vozes dobradas e arranjos pouco usuais para o Real Estate, além, claro, da já citada You Are Here, criação que concede ao som psicodélico da banda um novo e inusitado tratamento. São momentos de necessária ruptura que levam o trabalho para outras direções, porém, preservando a identidade criativa e busca do quinteto pela formação de um repertório marcado pela homogeneidade.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.