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Crítica

Reddy Allor / Gabeu

: "Cavalo de Troia"

Ano: 2024

Selo: Som Livre

Gênero: Pop, Sertanejo

Para quem gosta de: Pabllo Vittar e Kika Boom

Ouça: Descudio Seu e Clichê de Amores

7.5
7.5

Reddy Allor & Gabeu: “Cavalo de Troia”

Ano: 2024

Selo: Som Livre

Gênero: Pop, Sertanejo

Para quem gosta de: Pabllo Vittar e Kika Boom

Ouça: Descudio Seu e Clichê de Amores

/ Por: Cleber Facchi 26/08/2024

Dois dos nomes mais interessantes do queernejo, movimento de artistas LGBTQIAP+ que cantam sertanejo, Reddy Allor e Gabeu unem forças no colaborativo Cavalo de Troia (2024, Som Livre). Inspirado pelo mito grego que concede título à obra, o registro de oito faixas é tanto um esforço da dupla paulista em se infiltrar no ambiente conservador do gênero que serve de base para o material, como um exercício de formação da própria identidade artística que transita pelos mais variados estilos e estreita laços com novos parceiros.

Conceitualmente dividido em duas partes, o trabalho que tem produção de Fabrício Almeida, com quem Gabeu havia colaborado em Agropoc (2021), estabelece no primeiro bloco de canções uma abordagem mais tradicional. Como indicado na introdutória Passarinho, são arranjos que apontam para o sertanejo raiz e a música caipira, destacando a riqueza dos instrumentos e harmonias de vozes, proposta que segue até Descuido Seu, faixa que ganha um tempero pop e se completa pela participação de Alice Marcone.

É como um preparativo para o que se revela de forma ainda mais interessante com a chegada de Clichê de Amores. Marcada pelo cruzamento de estilos que vai do sertanejo românico à música latina, a faixa avança aos poucos, sem pressa, capturando a atenção do ouvinte que é lentamente seduzido pela voz avassaladora de Gaby Amarantos. “Tô amando o desconhecido, tatuou meu nome no sorriso / Provei uma vez e virou o meu vício”, confessa a letra da canção que evoca a mesma dramaticidade e entrega de Marília Mendonça.

Inaugurada em meio a arranjos acústicos e finalizada a partir de fragmentações sintéticas, Ficou Pra Trás abre passagem para a segunda metade do trabalho. Não por acaso, com a chegada da própria faixa-título, Reddy Allor e Gabeu se jogam de cabeça nas pistas, destacam a produção eletrônica e alcançam um ponto de equilíbrio entre o regionalismo pop de Pabllo Vittar com a urgência típica de Charli XCX e outros nomes de destaque no hyperpop. “Se o povo não gostar da gente, são tudo um bando de louco”, canta a dupla.

Nada que prepare o ouvinte para o que se apresenta em Frio da Madrugada. Eternizada pelo pai de Gabeu, o cantor Solimões, uma das metades da dupla com Rionegro no álbum O Amor Supera Tudo (1998), a faixa reaparece agora em novo e inusitado formato. Das vozes marcadas pelo uso do auto-tune, passando pelas batidas e sintetizadores que apontam para o trabalho da cantora Cher, em Believe, cada mínimo fragmento da composição destaca o esforça da dupla paulista em tensionar os limites entre a música sertaneja e pop.

Vem justamente desse esforço em ampliar os próprios horizontes o estímulo para o som acalentado de Me Devora. Completa pela participação do cantor e compositor pernambucano Romero Ferro, a faixa avança em direção ao brega, porém, incorporando uma série de elementos que vão do forró ao pagodão baiano em uma abordagem própria da dupla paulista. É como uma curva breve em relação ao restante do disco, ainda que intimamente conectada ao esforço dos dois artistas em romper com qualquer traço de conforto.

Não por acaso, passado esse momento de maior ruptura e busca por novas sonoridades, Meu Santo traz o disco de volta aos eixos e ainda restabelece o diálogo dos dois artistas com a moda de viola explícita nos minutos iniciais do trabalho. É como se após a jornada poética, sonora e política iniciada em Passarinho, Reddy Allor e Gabeu voltassem às próprias origens, destacando a relação com a música sertaneja, porém plenamente conscientes de tudo aquilo que enfrentaram, sentiram e conquistaram durante esse percurso.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.