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Crítica

Resavoir

: "Resavoir"

Ano: 2023

Selo: International Anthem

Gênero: Jazz, Soul

Para quem gosta de: Whitney e BADBADNOTGOOD

Ouça: Sunday Morning, On n On e Blutopia

7.8
7.8

Resavoir: “Resavoir”

Ano: 2023

Selo: International Anthem

Gênero: Jazz, Soul

Para quem gosta de: Whitney e BADBADNOTGOOD

Ouça: Sunday Morning, On n On e Blutopia

/ Por: Cleber Facchi 20/12/2023

Segundo e mais recente trabalho de estúdio do Resavoir, projeto comandado pelo compositor e pianista Will Miller, o autointitulado registro de onze faixas é uma obra que talvez custe a impressionar o ouvinte logo em uma primeira audição, porém, uma vez ambientado ao universo proposto pelo instrumentista de Chicago, difícil querer sair dele. São composições que flutuam entre o jazz, o soul e a música psicodélica em uma abordagem que pouco avança criativamente quando voltamos os ouvidos para o homônimo disco que o antecede, mas que a todo momento encanta pela sutileza e completo refinamento dado aos arranjos.

Como indicado logo na composição de abertura, Heavenly, cada elemento do disco se revela ao público em uma medida particular de tempo. Do uso enevoado dos sintetizadores, passando pela delicada inserção dos metais ao sempre meticuloso encaixe dos elementos percussivos, evidente é o esforço de Miller em garantir que cada instrumento seja apresentado e possa crescer com maior naturalidade. Claro que essa proposta talvez desagrade o ouvinte mais apressado, porém, é essencial para o desenvolvimento da obra que acolhe e hipnotiza para, somente em seguida, abrir as portas para um cenário completamente mágico.

Embora avance aos poucos, sem pressa, importante ressaltar que não se trata de um registro ausente de ritmo. Pelo contrário, há sempre um componente que busca romper com qualquer traço de conforto, levando o disco para outras direções. Em Inside Minds, por exemplo, são sintetizadores que atravessam a base acústica da canção. Já na atmosférica First Light, metais e entalhes percussivos surgem de forma estratégica, mudando os rumos da composição. A própria duração das faixas, sempre resolvidas em um intervalo de poucos minutos, parece contribuir ainda mais para o dinamismo e completa fluidez da obra.

Outro componente bastante característico e que oferece maior frescor ao presente álbum diz respeito ao uso das vozes. Antes empregados de forma puramente complementar, os vocais surgem agora como um elemento de destaque. Exemplo mais representativo desse resultado pode ser percebido em Sunday Morning. Completa pela participação de Max Kakacek e Julien Ehrlich, do Whitney, com quem Miller já havia colaborado anteriormente, a faixa ainda cresce nas rimas de Elton Aura, proposta que não apenas tinge o trabalho com novidade, como deixa o caminho aberto para os futuros lançamentos do projeto.

Mesmo quando se distancia de uma abordagem direta, a voz assume outras formatações. Nona faixa do trabalho, On n On torna isso bastante evidente. Enquanto a base adornada por pianos aponta a direção seguida ao longo da composição, vozes em coro surgem com maior destaque, como um complemento aos arranjos de cordas que mais uma vez evidenciam o refinamento dado ao disco. Em outros casos, como na já citada Inside Minds, a abordagem adotada por Miller é outra, vide o uso discreto, quase imperceptível, dos vocais, proposta que potencializa e concede maior sofisticação ao tratamento dado aos instrumentos.

E não poderia ser diferente. Desde a entrega do primeiro trabalho, são as investigações sonoras e sempre meticulosas bases instrumentais que orientam a obra de Miller. Canções que vão do jazz contemplativo à música brasileira em uma doce combinação de estilos, vide faixas como Blutopia, com seus apitos e temas tropicais que levam o álbum para outras direções. É como um jogo de pequenos acréscimos que a todo momento aponta para o repertório montado pelo compositor durante o lançamento do disco anterior, mas que passa a incorporar novos ritmos, diferentes estilos e parceiros criativos de forma totalmente única.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.