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Crítica

Rico Jorge

: "Vida Simples, Ideias Complexas"

Ano: 2023

Selo: Independente

Gênero: Eletrônica, MPB

Para quem gosta de: Teto Preto e ÀIYÉ

Ouça: Desejo e Ritmo Suor Ilusão

7.0
7.0

Rico Jorge: “Vida Simples, Ideias Complexas”

Ano: 2023

Selo: Independente

Gênero: Eletrônica, MPB

Para quem gosta de: Teto Preto e ÀIYÉ

Ouça: Desejo e Ritmo Suor Ilusão

/ Por: Cleber Facchi 15/12/2023

Durante mais de uma década, Rico Jorge pareceu em busca da própria identidade artística. Enquanto os registros iniciais do mineiro radicado em São Paulo pareciam destacar a forte relação do produtor com a música eletrônica, vide canções como Carlos, Lucia, Chico, Tiago e Rico, nos últimos anos, são os ritmos nacionais e a colorida combinação de estilos que passaram a orientar as criações do artista. O resultado dessa sobreposição de elementos e diferentes propostas criativas culmina no que se materializa agora com a chegada do primeiro álbum de estúdio de Rico, Vida Simples, Ideias Complexas (2023, Independente).

Inaugurado em meio a elementos percussivos que atravessam a base ritualística de um terreiro para cair no baile funk, o registro de doze faixas é um trabalho que se revela em pequenas doses. São diferentes costuras rítmicas que se completam pelo violão fluido que evoca nomes como Jorge Ben Jor e Baden Powell. Escolhida para anunciar o disco, Desejo funciona como uma boa representação desse resultado. Pouco mais de três minutos em que o artista apresenta parte das regras que orientam a formação do material, porém, preservando a relação com as pistas e os temas dançantes da primeiras composições.

O problema é que esse mesmo direcionamento criativo se reflete de forma bastante similar em diversos momentos ao longo da obra. Exemplo disso fica bastante evidente quando observamos músicas como Mente e O Que Você Fez. Do encaixe do violão logo nos minutos iniciais, passando pela inserção das batidas, tudo gira em torno de um mesmo universo criativo, como uma base estrutural que se molda aos diferentes temas detalhados pelo artista no decorrer do disco. Não por acaso, quanto mais se distancia desse resultado, Rico garante ao público algumas das melhores composições que abastecem o registro.

Quinta canção do disco, Ritmo Ilusão Suor talvez seja a principal representação desse resultado. Mesmo preservando a relação do produtor com a música brasileira, a faixa segue um caminho diferente. Do uso dos sintetizadores, passando pela construção das batidas que apontam diretamente para o funk carioca, cada fragmento da composição preserva e perverte uma série de elementos incorporados pelo artista. A mesma riqueza de estilos acaba se refletindo em Sangue, música talvez prejudicada pela voz deficitária de Rico, mas que chama a atenção pela sobreposição de ideias que vai do brega aos ritmos afro-brasileiros.

Vem justamente desse esforço do produtor em transitar por diferentes estilos o estímulo para algumas das principais faixas do disco. São estruturas totalmente imprevisíveis, como uma soma do que há de mais interessante no tipo de som incorporado pelo artista mineiro. Em TDAH+, por exemplo, tambores e batidas tortas se entrelaçam de forma a brincar com a interpretação do ouvinte. Já em Obcecado Digital, próxima ao encerramento do trabalho, bases eletrônicas se completam pela percussão orgânica, como formatações totalmente dissonantes, por vezes irregulares, mas que costuram passado e presente da produção de Rico.

Toda essa combinação de elementos faz de Vida Simples, Ideias Complexas uma obra que naturalmente cumpre a função de apresentar o trabalho de Rico Jorge, mas que a todo momento destaca o que há de mais característico nas criações do artista: a necessidade em brincar com as possibilidades e testar os limites em estúdio. Claro que muitas dessas ideias e direções explorados pelo produtor parecem ainda incompletos. A própria voz carece do mesmo refinamento explícito na construção das batidas e bases instrumentais. É como um exercício ainda em formação, mas que apresenta conceitos bastante concretos.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.