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Crítica

Rina Sawayama

: "Hold The Girl"

Ano: 2022

Selo: Dirty Hit

Gênero: Pop

Para quem gosta de: Charli XCX e Magdalena Bay

Ouça: Hold The Girl e Catch Me In The Air

7.5
7.5

Rina Sawayama: “Hold The Girl”

Ano: 2022

Selo: Dirty Hit

Gênero: Pop

Para quem gosta de: Charli XCX e Magdalena Bay

Ouça: Hold The Girl e Catch Me In The Air

/ Por: Cleber Facchi 21/09/2022

Hold The Girl (2022, Dirty Hit) está longe de parecer o trabalho que as pessoas estavam esperando de Rina Sawayama. Depois de ganhar o mundo com o elogiado Sawayama (2020), registro em que utiliza de elementos do nu-metal para perverter o pop tradicional, a japonesa naturalizada britânica segue por uma trilha parcialmente distinta no segundo e mais recente álbum de estúdio da carreira. O olhar curioso para o som produzido nos anos 1990 e 2000 ainda é o mesmo do repertório entregue há dois anos, porém, as referências, temas e direções apontadas pela cantora agora são outras, o que está longe de desagradar.

Como indicado pela própria artista durante todo o processo de divulgação do trabalho, Hold The Girl é um registro declaradamente inspirado pelas criações de Shania Twain e outros nomes importantes que sempre transitaram entre o country e o pop. Não por acaso, This Hell foi a primeira composição do disco a ser revelada ao público. Exercício de transição para essa nova fase na carreira da cantora, a canção parte de uma citação ao sucesso Man! I Feel like a Woman, porém, rapidamente transporta o ouvinte para um universo próprio de Sawayama, com suas inquietações políticas, personagens icônicos e homenagens.

Tapete vermelho em chamas, posando para os paparazzi / Foda-se o que eles fizeram com Britney, com Lady Di e Whitney … Satanás está com sede, nem mesmo ele pode me machucar“, canta em uma delicada reflexão sobre a indústria do entretenimento e a forma como consumimos a vida de celebridades. É como uma extensão natural do repertório entregue pela própria artista no trabalho anterior, em faixas como XS, porém, partindo de novas possibilidades e diferentes desdobramentos criativos. Instantes em que a cantora captura a atenção do ouvinte sem necessariamente fazer disso o estímulo para um registro vazio, oco.

Mesmo quando se aprofunda em questões sentimentais, prevalece o minucioso processo de composição e refinamento dado aos versos. A própria faixa-título do disco funciona como uma boa representação desse resultado. Enquanto a base da canção evoca o que há de melhor nas criações de Lady Gaga e Madonna, Sawayama mergulha em conflitos intimistas e pequenas reflexões geradas a partir de sessões de terapia. “Eu não vou te deixar sozinha / Ensina-me as palavras que eu conhecia / Sim, eu as esqueci há tempos / E eu quero lembrar“, detalha em um exercício criativo tão doloroso quanto emocionalmente libertador.

Tamanho esmero na construção dos versos acaba se refletindo até os minutos finais do trabalho, em To Be Alive, música em que reflete sobre as dores e pequenas alegrias de se estar vivo. “Abri meus olhos, parece a primeira vez / Que eu finalmente sei como é / Estar viva“, canta. Mais do que um delicado exercício de exposição sentimental, a faixa sintetiza de forma bastante eficiente a relação de Sawayama com a produção eletrônica ao longo da obra. São fragmentos de trance, techno e house que, em contato com o country pop apontado nos minutos iniciais, indicam a versatilidade e potência criativa da cantora em Hold The Girl.

Parte expressiva dessa busca por novas direções criativas vem de esforço de Sawayama em estreitar a relação com novos parceiros. Além de Clarence Clarity, com quem tem colaborado desde desde o mini-álbum Rina (2017), a artista se aproxima de nomes como Paul Epworth (Adele, Rihanna) e Stuart Price (Kylie Minogue, Dua Lipa). Tamanha convergência de ideias resulta na entrega de uma obra versátil, porém, inchada. É como se a cantora concentrasse tudo aquilo que vem produzindo em estúdio desde o disco anterior, proposta que convence e tende a desgastar a experiência do ouvinte na mesma proporção.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.