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Ano: 2023

Selo: YB Music

Gênero: Samba

Para quem gosta de: Kiko Dinucci e Juçara Marçal

Ouça: Um Amor Cantando e Cidade Trovão

7.5
7.5

Rodrigo Campos & Romulo Fróes: “Elefante”

Ano: 2023

Selo: YB Music

Gênero: Samba

Para quem gosta de: Kiko Dinucci e Juçara Marçal

Ouça: Um Amor Cantando e Cidade Trovão

/ Por: Cleber Facchi 14/12/2023

Embora parceiros de longa data e colaboradores em diferentes projetos da cena paulistana, entre eles o paralelo Passo Torto, Rodrigo Campos e Romulo Fróes nunca haviam se aventurado na produção de um álbum assinado em conjunto. Pelo menos até agora. Em Elefante (2023, YB Music), a dupla não apenas divide a composição das nove faixas que abastecem o disco, como se reveza na formação dos arranjos e bases acústicas que estreitam relações com o samba, porém, partindo de um direcionamento retorcido, como uma extensão natural das criações de cada músico em seus respectivos projetos em carreira solo.

Música de abertura do disco, Ladeira funciona como uma boa representação desse resultado. Enquanto os dois artistas se revezam nos vocais, versos em movimento passeiam em meio a paisagens urbanas, dores, personagens mundanos e sentimentos em uma representação bastante característica dos temas que há tempos embalam as criações da dupla. São canções marcadas pelo reducionismo dos elementos, como um desdobramento daquilo Fróes tem explorado em estúdio desde a entrega do sombrio Barulho Feio (2014).

O problema é que essa suposta divisão e entrega de um registro colaborativo acaba ficando apenas no campo das ideias ou em pontos específicos do trabalho. Existe um desequilíbrio enorme na separação dos vocais, fazendo de Elefante um álbum que parece pertencer muito mais a Fróes do que Campos, como se o músico ficasse em segundo plano, assumindo apenas a base instrumental do disco. A própria Anna Vis, que surge com destaque em composições como a ótima Já Morri Nos Meus Pais, exerce um protagonismo muito maior do que o violonista que se projeta de maneira bastante discreta, vide canções como Carcaça.

Mesmo orientado por essa irregular divisão das vozes, Elefante em nenhum momento deixa de encantar e oferecer ao público algumas das melhores composições já produzidas pelos dois artistas. É o caso de Um Amor Cantando. Longe de atmosfera soturna que orienta parte expressiva do trabalho, a canção que se completa pelas vozes de Vis e o saxofone de Thiago França leva o disco para outra direção, muito mais solar, como uma música perdida do primeiro álbum do Metá Metá. A própria Cidade Trovão, escolhida para anunciar a chegada do material, é outra que convence pelos detalhes e uso de pequenos acréscimos.

São inserções sutis do violão e cavaquinho de Campos que rompem com a simplicidade aparente da obra e ampliam os limites do álbum. Faixa-título e música de encerramento do trabalho, Elefante funciona como uma representação eficiente desse resultado. Enquanto os versos destacam o lirismo apurado dois artistas (“Não tenha dó / O caminho do exílio é vazio de alucinação“), arranjos calculados encolhem e crescem a todo instante, jogando com a interpretação do público. Essa mesma riqueza de ideias pode ser percebida em Ela, primeira, uma das poucas marcadas pelo equilíbrio das vozes e meticuloso processo de criação.

Próximo e ao mesmo tempo distante de tudo aquilo que os dois compositores têm explorado ao longo da última década, Elefante reforça a parceria entre a dupla e ainda surge como um precioso acréscimo em um ano já bastante movimentado tanto para Fróes quanto para Campos. Enquanto o primeiro deu vida ao colaborativo Na Goela (2023), parceria com o músico Tiago Rosas, e assinou a direção artística de Coração Bifurcado (2023), mais recente disco de Jards Macalé, o segundo lançou em março o experimental Pagode Novo (2023), prova de que mesmo em um período de intensa produção, o duo ainda tem muito a oferecer.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.