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Crítica

Romero

: "Turn It On!"

Ano: 2022

Selo: EMI

Gênero: Rock, Power Pop

Para quem gosta de: Sheer Mag e Amyl and the Sniffers

Ouça: Halfway Out The Door e Talk About It

7.8
7.8

Romero: “Turn It On!”

Ano: 2022

Selo: EMI

Gênero: Rock, Power Pop

Para quem gosta de: Sheer Mag e Amyl and the Sniffers

Ouça: Halfway Out The Door e Talk About It

/ Por: Cleber Facchi 21/04/2022

Talvez você nunca tenha ouvido falar dos australianos da Romero, porém, bastam os minutos iniciais de Talk About It para que o quinteto de Melbourne se apresente por completo. Hoje formado por Alanna Oliver (voz, teclados), Adam Johnstone (guitarras), Fergus Sinclair (guitarras), Justin Tawil (baixo) e Dave Johnstone (bateria, teclados), o grupo sustenta na urgência dos elementos o estímulo para cada uma das composições de Turn It On! (2022, EMI), álbum de estreia da banda e uma viagem em direção ao passado, proposta que acaba se refletindo até a música de encerramento do trabalho, Things They Don’t Tell You.

Fortemente influenciado pelo som produzido entre o final da década de 1970 e início dos anos 1980, o registro que evoca conterrâneos como The Replacements e outros nomes importantes do período, como Blondie e Big Star, aponta para o passado, porém, em nenhum momento sufoca pela própria nostalgia. São canções que utilizam de um acabamento empoeirado para discutir uma série de conceitos e temas universais que vão de relacionamentos fracassados a instantes de maior vulnerabilidade, proposta que muito se assemelha ao material entregue nos recentes trabalhos de Sheer Mag e Amyl and the Sniffers.

A diferença em relação a outros nomes do gênero está na atmosfera descompromissada que orienta a formação do registro. Por mais dolorosos que sejam os versos despejados ao longo da obra, sobrevive no processo de construção do trabalho a permanente sensação de leveza. Com exceção de White Dress, próxima ao encerramento do disco, perceba como o grupo mantém firme a aceleração dos arranjos e potência dos versos. É como se cada composição servisse de passagem para a música seguinte. São rajadas de guitarras, batidas e vozes que se entrelaçam de forma urgente, capturando a atenção do ouvinte.

Perfeita representação desse resultado acontece na própria faixa-título do disco. Enquanto os versos evidenciam os tormentos sentimentais e angústias vividas por Oliver (“Você acredita nas coisas que eu digo ou acredita nas coisas que eu faço? / E se uma ação fala mais alto que palavras, então por que você não está me observando“), camadas de guitarras encolhem e crescem a todo instante, sempre de maneira imprevisível, garantindo fluidez ao material. Uma delirante combinação de elementos que acaba se refletindo mesmo nos momentos de maior calmaria da obra, distanciando o ouvinte de possíveis respiros.

Se por um lado essa permanente aceleração e caráter escapista contribui para o fortalecimento da obra, por outro, evidencia a similaridade entre as faixas. São músicas dotadas de uma arquitetura bastante característica, por vezes previsível, como se a banda desse voltas em torno de um mesmo conjunto de ideias e referências criativas. Entretanto, desde o lançamento das primeiras criações, caso de Honey e Troublemaker, o grupo australiano nunca prometeu nada diferente disso. Composições que funcionam como uma fuga breve da realidade, orientando com leveza a experiência do ouvinte até os últimos minutos.

E isso fica bastante evidente à medida que o trabalho avança. São canções que parecem pensadas para grudar na cabeça do ouvinte logo em uma primeira audição. Um intenso cruzamento de informações que vai do uso empoeirado dos vocais, emulando a produção da década de 1970, à escolha dos timbres e uso destacado das guitarras. O resultado desse processo está na entrega de músicas como Halfway Out The Door e Happy Hour que continuam a ecoar mesmo após o encerramento do trabalho. Um misto de nostalgia e permanente busca pela própria identidade, como um precioso exercício de apresentação.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.