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Ano: 2023

Selo: YB Music

Gênero: MPB, Rock, Samba Torto

Para quem gosta de: Passo Torto e Kiko Dinucci

Ouça: Na Goela e Minha Armadilha

7.8
7.8

Romulo Fróes & Tiago Rosas: “Na Goela”

Ano: 2023

Selo: YB Music

Gênero: MPB, Rock, Samba Torto

Para quem gosta de: Passo Torto e Kiko Dinucci

Ouça: Na Goela e Minha Armadilha

/ Por: Cleber Facchi 21/03/2023

Sempre que estreita relações com diferentes colaboradores em estúdio, rompendo com o seleto time que tem movimentado a cena paulistana, Romulo Fróes costuma transportar suas criações para um novo território criativo. Foi assim com O Meu Nome é Qualquer Um (2016), inusitada pareceria com o mineiro César Lacerda, além de criações ocasionais com nomes como Rogério Skylab e Rodrigo Vellozo. Encontro com o músico fluminense Tiago Rosas, Na Goela (2023, YB Music) é um desses trabalhos. Fisicamente afastados por conta da pandemia de Covid-19, porém, musicalmente conectados, os dois artistas brincam com as possibilidades em uma obra que parte do contexto pandêmico para incorporar outras temáticas.

Inaugurado em meio a guitarras abstratas, sempre ruidosas, e versos questionadores (“Qual o nome disso / Que arde no peito sem queimar?“), Na Goela é um desses discos que mais ocultam do que necessariamente garantem respostas ao público. E isso é fascinante. Partindo de um jogo de vozes, ritmos e constantes atravessamentos de informações, Fróes e Rosas cantam sobre o amor, esbarram em questões políticas e sustentam na construção dos arranjos uma manifestação da claustrofobia vivida durante o período de isolamento social. Um exercício criativo nem sempre acessível, porém, difícil de ser ignorado pelo ouvinte.

E isso fica bastante evidente durante toda a primeira metade do disco. Do momento em que tem início, em Último Osso, Fróes e Rosas, sempre acompanhados pelos instrumentistas Marcelo Cabral (baixo), Lucas Fixel (bateria) e Guilherme Held (guitarra), mergulham em uma sequência de composições que destacam a angústia dos versos e uso contrastante dos arranjos. São canções que partem do habitual samba torto do músico paulistano para destacar a relação com o rock, como um regresso momentâneo e atualizado ao território explorado em registros como No Chão Sem O Chão (2009) e Um Labirinto Em Cada Pé (2011).

O problema acaba ficando na porção seguinte do trabalho, quando estruturas e temáticas reveladas nos minutos iniciais se repetem, confinando o ouvinte a um ambiente quase tedioso. Composições que partem dos habituais jogos de palavras e cenas enigmáticas de Fróes, direcionamento reforçado em músicas como Paralelepípedo e Quem Dera. Nada que diminua a potência dos arranjos e esforço da dupla e seus parceiros em transitar por entre estilos de forma sempre curiosa. Exemplo disso acontece em Mais Uma Dor, faixa que parte de uma ambientação minimalista, abre passagem para as guitarras de Held e ainda cresce na letra lancinante assumidas pelos dois artistas. “Sobrevivi / Mais uma vez / Mas dói ainda“, canta.

E ela está longe de parecer a única criação de destaque na segunda metade do trabalho. Faixa mais acessível do disco, O Amor Por Um Triz concede leveza ao repertório da dupla sem necessariamente tropeçar no óbvio. “As coisas no meu porão / Debaixo do chão / Lembranças ruins / Voltando pra me avisar“, cresce a letra da canção que combina memórias de um passado distante e acontecimentos recentes que reforçam o aspecto emocional da obra. Surgem ainda acertos como Voz Refém, um samba político que se aprofunda em uma série questões sociais que se estende para além do território brasileiro.

Com todos esses elementos, ritmos e ideias organizadas dentro de um único disco, Fróes e Rosas garantem ao público um material essencialmente diverso, mas que em nenhum momento tende aos excessos. Mesmo que algumas composições pareçam incapazes de replicar o dinamismo e riqueza de detalhes que se manifesta na sequência formada pela própria faixa-título, Os Herdeiros do Antes e Minha Armadilha, a dupla conduz com destreza a execução da obra até os minutos finais, em Um Por Um. É como um catálogo de observações mundanas, tormentos e conflitos pessoais tão particulares quanto íntimos do ouvinte.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.