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Crítica

Russo Passapusso / Antonio Carlos / Jocafi

: "Alto da Maravilha"

Ano: 2022

Selo: Máquina de Louco

Gênero: MPB, Samba

Para quem gosta de: BaianaSystem e Curumin

Ouça: Pitanga, Mirê Mirê e Catendê

8.5
8.5

Russo Passapusso, Antonio Carlos & Jocafi: “Alto da Maravilha”

Ano: 2022

Selo: Máquina de Louco

Gênero: MPB, Samba

Para quem gosta de: BaianaSystem e Curumin

Ouça: Pitanga, Mirê Mirê e Catendê

/ Por: Cleber Facchi 14/11/2022

Alto da Maravilha (2022, Máquina de Louco) é uma verdadeira celebração à música baiana. Produto da parceria entre o cantor e compositor Russo Passapusso, um dos integrantes do BaianaSystem, com a dupla Antonio Carlos & Jocafi, dois importantes representantes da cena brasileira na década de 1970, o trabalho marcado pela colorida mistura de ritmos costura passado e presente em uma abordagem que concentra o que há de melhor na obra de cada colaborador. São canções que parecem dançar pelo tempo, sempre divididas entre a euforia festiva e lirismo contestador que concede movimento e grandeza ao repertório.

Conceitualmente dividido em dois blocos bastante específicos, o trabalho que conta com produção assinada em conjunto por Curumin, Zé Nigro e Lucas Martins, sustenta na porção inicial, definida pelo grupo como “o pé“, um precioso componente de estímulo e imediato diálogo com o ouvinte. A própria faixa de abertura, Aperta o Pé, funciona como uma boa representação de tudo aquilo que o trio busca desenvolver. Da construção das batidas, ao coro de vozes e arranjos ensolarados, tudo parece pensado para capturar a atenção do público, convidado a se perder em um labirinto de formas instrumentais.

Mesmo quando tende ao romantismo, como em Pitanga, com seus arranjos e vozes que vão de Jorge Ben Jor a João Donato, prevalece o entusiasmo apontado logo nos minutos iniciais. Instantes em que o trio confessa referências, resgata memórias e transita por entre estilos, porém, preservando a própria identidade criativa. E isso fica bastante evidente em Veneno, música que destaca a poesia política do trabalho, referencia Gilberto Gil e ainda soa como uma extensão natural de tudo aquilo que Passapusso havia testado com o último álbum em carreira solo, o também provocativo Paraíso da Miragem (2014).

Esse mesmo caráter político fica ainda mais evidente em Tapa. Ponto de partida para a segunda metade do trabalho, descrita pelo grupo como “a mão“, a música que começa serena destaca o aspecto contemplativo que marca parte expressiva da porção seguinte de Alto da Maravilha. São composições talvez menores e estruturalmente previsíveis quando próximas do material entregue no eixo inicial, mas não menos expressivas. Exemplo disso fica bastante claro na já conhecida Mirê Mirê, encontro com Gilberto Gil e uma combinação de ritmos, formas e sentimentos que parece pensada para envolver e confortar o ouvinte.

Sobrevive justamente nesses momentos de maior contemplação a passagem para algumas das canções mais interessantes do álbum. É o caso de Olhar Pidão, música que se completa pela participação de Karina Buhr e destaca o lirismo acolhedor do registro. Nada que prepare o ouvinte para o fechamento do disco, com Catendê. Precedida de um depoimento que destaca o respeito e parceria de longa data de Antonio Carlos e Jocafi, a faixa encanta pela sutileza dos arranjos e lento desvendar das informações. É como uma fuga do restante da obra e uma extensão natural de tudo aquilo que caracteriza o repertório do trabalho.

Nesse misto de sensações, encontros e vozes que vão da celebração ao doce recolhimento, prevalece em Alto da Maravilha a formação de um registro que parece reverberar para além do último acorde. Vindo de um longo processo de gestação que teve início antes mesmo do período pandêmico, o disco nasce como um acumulo natural das experiências compartilhadas por cada colaborador. São canções que partem do evidente fascínio de Passapusso pela obra da dupla baiana, mas que se completam pelo permanente atravessamento de informações e diálogos com novos parceiros criativos que ampliam os limites do álbum. Décadas de música e diferentes narrativas pessoais que se concentram dentro de um único trabalho.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.