Image

Ano: 2023

Selo: Milan

Gênero: Música Ambiente, Experimental

Para quem gosta de: Brian Eno e Phillip Glass

Ouça: 20211130 e 20220302 - sarabande

7.8
7.8

Ryuichi Sakamoto: “12”

Ano: 2023

Selo: Milan

Gênero: Música Ambiente, Experimental

Para quem gosta de: Brian Eno e Phillip Glass

Ouça: 20211130 e 20220302 - sarabande

/ Por: Cleber Facchi 26/01/2023

Em dezembro do último ano, o cantor, compositor, multi-instrumentista e produtor Ryuichi Sakamoto subiu ao palco para o que talvez seja uma de suas últimas apresentações ao vivo. Com o descritivo título de Ryuichi Sakamoto: Playing the Piano 2022, o espetáculo contou com preciosidades como Merry Christmas Mr. Lawrence e outras composições que destacam o minucioso processo de criação do artista que há anos tem lutado contra um câncer. Embora debilitado por conta do tratamento que vem recebendo, o músico que já atuou como parte do Yellow Magic Orchestra – grupo formado em parceria com Haruomi Hosono e Yukihiro Takahashi (1952 – 2023), que faleceu há poucos dias –, decidiu utilizar desse particular processo de exaustão física e emocional para investir em um novo registro de inéditas, o delicado 12 (2023, Milan).

Naturalmente influenciado pelo recente período vivido pelo compositor japonês, o trabalho se distancia de possíveis excessos para seguir uma trilha econômica, mas não menos provocativa. Inaugurado pela atmosférica 20210310, Sakamoto indica parte dos elementos que sutilmente dividem o material em dois blocos bastante característicos de composições. O primeiro deles, indicado logo nos minutos inicias e reforçado pela soturna 20220202, destaca o uso dos sintetizadores e bases enevoadas que evidenciam o experimentalismo do instrumentista, como uma extensão do álbum anterior, o provocativo Async (2017).

É como se o músico fosse de encontro ao mesmo território criativo explorado em Cendre (2007), bem sucedida parceria com Christian Fennesz. Entretanto, enquanto o material assinado em colaboração com o produtor austríaco destacava os pianos cristalinos de Sakamoto, em 12, o compositor japonês assume com maestria a formação de bases densas que orientam a construção das canções. Exemplo disso fica bastante evidente com a chegada de 20220214, sétima faixa do disco. São pouco mais de nove minutos em que somos envoltos por uma manta sintética que ganha forma e cresce em uma medida própria de tempo.

Por sua vez, o restante do material traz de volta os pianos solitários e doce melancolia que há tempos embala os trabalhos do artista. Como indicado em 20211130, na abertura do álbum, Sakamoto utiliza do instrumento para expressar as próprias emoções de forma comovente, estreitando laços com o ouvinte. São movimentos sutis, sempre calculados, mas que ganham novas tonalidades e diferentes texturas à medida que o registro avança. O próprio uso da respiração debilitada funciona como um elemento de marcação rítmica, proposta que surge e desaparece em diversos momentos ao longo da obra, como em 20220207.

Talvez instigantes e fundamentais para o desenvolvimento do registro em uma primeira audição, essas pequenas repetições que surgem no decorrer do trabalho tendem a consumir a experiência do ouvinte. Diferente do material entregue no disco anterior, em que se permitia transitar por entre estilos e brincar com o uso de diferentes propostas criativas, vide o aproveitamento das vozes e captações de campo, Sakamoto encontra no uso de pequenas reinterpretações a base para o repertório de 12. Dessa forma, toda a segunda metade do perde seu fascínio, como se toda a surpresa fosse reservada aos minutos iniciais.

Ainda assim, algumas composições se destacam em momentos estratégicos e rompem com possíveis traços de conforto. Em 20220302 – sarabande, por exemplo, chama a atenção o refinamento dado aos pianos, emulando a melancolia típica dos trabalhos de Antônio Carlos Jobim, importante referência criativa para o músico japonês. A própria música de encerramento do álbum, 20220304, com sua percussão vítrea, é outra que encanta pela fragilidade do artista. Um jogo de pequenos acréscimos e subtrações ocasionais que mais uma vez evidenciam o minucioso e sempre atrativo processo de criação adotado por Sakamoto.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.