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Crítica

Saba

: "Few Good Things"

Ano: 2022

Selo: Pivot Gang

Gênero: Hip-Hop, Rap, R&B

Para quem gosta de: Noname e Chance The Rapper

Ouça: Come My Way e Make Believe

7.6
7.6

Saba: “Few Good Things”

Ano: 2022

Selo: Pivot Gang

Gênero: Hip-Hop, Rap, R&B

Para quem gosta de: Noname e Chance The Rapper

Ouça: Come My Way e Make Believe

/ Por: Cleber Facchi 03/03/2022

Da imagem de capa à melancólica construção dos versos, sempre intimistas, cada mínimo fragmento do material entregue por Saba em Care For Me (2018) parecia consumido pela dor. Não por acaso, para a produção de Few Good Things (2022, Pivot Gang), terceiro e mais recente álbum de estúdio, o artista de Chicago decidiu seguir o caminho oposto. São canções que tratam da “satisfação e completude que você ganha simplesmente vivendo uma vida que é sua“, como comentou no texto de apresentação do material, conceito que acaba se refletindo de forma bastante sensível até a autointitulada música de encerramento.

Marcado pelo refinamento dado aos versos, Few Good Things passeia pelas ruas de Chicago enquanto Saba discute temas como amadurecimento, saudade e o peso da passagem do tempo, proposta que acaba se refletindo na própria fotografia de capa e imagens de divulgação do material, com um mesmo personagem representado em diferentes fases da vida. É como um exercício particular e existencialista, mas que em nenhum momento deixa de dialogar com o ouvinte, produto do evidente domínio do rapper, em constante processo de transformação desde a estreia com o delicado Bucket List Project (2016).

Não por acaso, como forma de ampliar os temas discutidos ao longo da obra, Saba faz de Few Good Things um campo aberto ao diálogo com diferentes colaboradores. Exemplo disso fica bastante evidente em Come My Way, música que se completa pela participação Krayzie Bone e uma preciosa representação de tudo aquilo que o rapper busca desenvolver em estúdio. São versos que costuram passado e presente de forma sempre sensível, mergulhando em conflitos raciais, a incessante busca por dinheiro e a necessidade de seguir em frente, direcionamento que acaba se refletindo em diversos outros momentos do trabalho.

É o caso de A Simpler Time. Em um intervalo de poucos minutos, Saba e a convidada, a rapper Mereba, transitam em meio a versos que partem de um relacionamento comum para se aprofundar em conflitos sentimentais, problemas financeiros, sonhos e desilusões. Composições que nascem da criativa sobreposição de elementos, como se diferentes faixas fossem condensadas dentro de cada canção. Instantes em que o artista vai de encontro ao mesmo território criativo de Noname e outros nomes próximos, fazendo de Few Good Things um registro imenso, mesmo no reducionismo dos elementos.

Embora marcado pelo forte aspecto contemplativo, Few Good Things, assim como os registros que o antecedem, em nenhum momento se distancia da produção de faixas marcadas pelo forte caráter acessível. Exemplo disso fica bastante evidente na já conhecida Fearmonger. Enquanto os versos se aprofundam em medos e inquietações vividas pelo próprio artista, batidas e guitarras ensolaradas transportam o público para um novo território. Mesmo quando desacelera, como na sorumbática Make Believe, parceria com Fousheé, e na construção econômica de Stop That, Saba parece pronto para capturar a atenção do ouvinte.

Imerso nesse ambiente marcado pelo peso da memória, conflitos existencialistas e colaborações, Saba entrega ao público uma obra que parece incapaz de replicar a mesma homogeneidade explícita nas canções de Care For Me, porém, encanta pela riqueza de detalhes e permanente busca do artista por novas possibilidades. São composições que trilham por caminhos distintos e incorporam novas sonoridades, mesmo aportando em temas bastante próximos. É como um convite a mergulhar na mente do próprio rapper, proposta que tinge com incerteza e fino toque de melancolia a experiência de ouvir o trabalho.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.