Image
Crítica

Saint Etienne

: "I've Been Trying To Tell You"

Ano: 2021

Selo: Heavenly

Gênero: Trip-Hop, Ambient Pop

Para quem gosta de: Stereolab e Everything But The Girl

Ouça: Pond House e I Remember It Well

7.4
7.4

Saint Etienne: “I’ve Been Trying To Tell You”

Ano: 2021

Selo: Heavenly

Gênero: Trip-Hop, Ambient Pop

Para quem gosta de: Stereolab e Everything But The Girl

Ouça: Pond House e I Remember It Well

/ Por: Cleber Facchi 17/09/2021

Três décadas após o lançamento do primeiro álbum de estúdio, Foxbase Alpha (1991), Sarah Cracknell, Bob Stanley e Pete Wiggs continuam a fazer do Saint Etienne um espaço aberto ao experimento. Em I’ve Been Trying To Tell You (2021), décimo álbum de estúdio do trio londrino, cada composição funciona como um acumulo natural de tudo aquilo que o grupo tem incorporado desde o início da carreiras. São batidas e bases cíclicas, sempre psicodélicas, vozes parcialmente submersas, fragmentos extraídos de diferentes composições e instantes doce letargia. Um lento desvendar de ideias e tendências, mas que em nenhum momento ultrapassa o que parece ser um limite conceitual bem definido, íntimo dos registros da banda.

A principal diferença em relação aos últimos trabalhos da banda, como Home Counties (2017), está na temática veranil que serve de sustento ao disco. Utilizando da identidade visual concebida pelo fotógrafo Alasdair McLellan, conhecido pelos editoriais de moda para diferentes publicações, o trio busca desenvolver paisagens instrumentais para as imagens que mostram jovens desfrutando o verão europeu. Não por acaso, Penlop foi uma das primeiras faixas a serem apresentadas ao público. São melodias, batidas e vozes deliciosamente arrastadas, estrutura que se conecta diretamente ao vídeo dirigido por McLellan.

Uma vez imerso nesse cenário de formas enevoadas e melodias flutuantes, cada composição se transforma em um objeto de destaque no interior do disco. E isso fica bastante evidente na já conhecida Pond House. Típica criação do Saint Etienne, a música concebida a partir de trechos de Beauty on the Fire, da cantora Natalie Imbruglia, ganha forma em uma medida própria de tempo. É como se cada elemento da canção, como a linha de baixo suculenta, as camadas de sintetizadores e batidas hipnóticas, fossem revelados ao público em pequenas doses, direcionamento que se reflete até a música de encerramento, Broad River.

Partindo dessa estrutura, o trio britânico se concentra na produção de faixas que ora convidam o ouvinte a dançar, caso da já citada Pond House, ora refletem o experimentalismo da banda. Vem justamente desse segundo grupo a delirante I Remember It Well. Menos urgente em relação ao material entregue no restante da obra, a faixa de essência etérea parte do uso de captação de campos para mergulhar e um território totalmente mágico. São melodias ecoadas, arranjos e vozes submersas, proposta que vai de encontro ao som produzido por artistas como Air France e JJ, sempre inspirados pelas criações do Saint Etienne.

Curioso perceber nesse caráter atmosférico que rege a obra uma virtude e fraqueza de I’ve Been Trying To Tell You. Se por um lado músicas como I Remember It Well parecem pensadas para envolver o público, por outro, canções como Broad River tornam a experiência de ouvir o álbum totalmente arrastada. São ambientações preguiçosas e que pouco evoluem tecnicamente. A própria faixa de abertura do disco, Music Again, parece infinitamente menor e menos interessante do que toda a sequência de composições reveladas pelo trio ao longo do registro. Faltam momentos de maior ruptura e surpresa para o ouvinte.

Entretanto, uma vez transportando para dentro desse território marcado pelo uso de ambientações letárgicas, mesmo composições arrastadas e menos expressivas parecem difíceis de serem ignoradas pelo ouvinte. É como se cada faixa servisse de passagem para a música seguinte, garantindo ao trabalho uma sensação de obra única, como um extenso bloco criativo que se revelam ao público em pequenos atos. Instantes em que o trio britânico desacelera consideravelmente em relação aos primeiros trabalhos de estúdio, prova de novas possibilidades e garante a construção de um registro de essência homogênea.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.