Ano: 2024
Selo: Heavenly
Gênero: Ambient Pop
Para quem gosta de: Beth Gibbons e Tracey Thorn
Ouça: Nightingale e When You Were Young
Ano: 2024
Selo: Heavenly
Gênero: Ambient Pop
Para quem gosta de: Beth Gibbons e Tracey Thorn
Ouça: Nightingale e When You Were Young
Feito para se ouvir “com os olhos fechados”, como resume o texto de apresentação do trabalho, The Night (2024, Heavenly) segue a trilha atmosférica do registro que o antecede, I’ve Been Trying To Tell You (2021), porém, delicadamente substitui a ambientação ensolarada do disco anterior por um repertório de essência invernal. São canções marcadas pelo uso de temas atmosféricos, proposta que naturalmente conduz o som produzido pelos membros do Saint Etienne para um novo, mas não menos interessante território criativo.
Mesmo inaugurado em meio ao som caloroso de conversas, risos e cantorias no que parece ser o cenário típico de um bar, The Night logo trata de ambientar o ouvinte ao contexto frio e melancólico do registro. “O tempo voa. Ele desliza e escorrega. Todos os caminhos levam até aqui”, declama a vocalista do grupo, Sarah Cracknell, na introdutória Settle In, música que não apenas revela o lirismo contemplativo que aos poucos consome o disco, como destaca o ruído chuvoso que cobre a superfície do trabalho até os momentos finais.
Partindo dessa abordagem, Cracknell e seus companheiros de banda, os músicos Bob Stanley e Pete Wiggs, garantem ao público um trabalho realmente marcado pelo aspecto imersivo, inviabilizando a inserção de momentos dançantes tão característicos em registros como os também reducionistas Tales from Turnpike House (2005) e Words and Music by Saint Etienne (2012). É como se o grupo, pela primeira vez em mais de três décadas de carreira, rompesse de forma bastante expressiva com todo e qualquer traço de aceleração.
O resultado desse processo está na entrega do que talvez seja o registro mais homogêneo já produzido pela banda. Do tratamento dado aos vocais, passando pelo reducionismo dos arranjos, tudo gira em torno de um mesmo território criativo. É como se cada nova composição servisse de passagem para a música seguinte, proposta que, para o bem ou para o mal, inviabiliza momentos de maior ruptura criativa. Falta ao trabalho a inserção de faixas como a crescente Pond House, essencial para o avanço de I’ve Been Trying To Tell You.
Ainda assim, momentos de maior notoriedade podem ser percebidos durante toda a execução do trabalho. É o caso de Nightingale, faixa que vai de encontro ao trip-hop produzido na década de 1990, soando como uma canção perdida do Portishead. Outra que chama a atenção é When You Were Young. Embora parta do conceito atmosférico que orienta o material, a composição estabelece no uso destacado das vozes e versos cíclicos um curioso elemento de transformação, direcionamento que conduz o álbum para outros campos.
Seja qual for o percurso adotado pela banda em estúdio, notável é o refinamento técnico e capricho do trio na execução de cada mínimo fragmento do material. Das guitarras estridentes que sutilmente invadem Half Light, passando pelos arranjos de cordas, delicadas camadas instrumentais e batidas de No Rush, perceba como o grupo utiliza de uma série de componentes reducionistas como base para um resultado grandioso.
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.