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Crítica

Sally Shapiro

: "Sad Cities"

Ano: 2022

Selo: Italians Do It Better

Gênero: Synthpop, Disco, Italo-Disco

Para quem gosta de: Chromatics, Annie e Robyn

Ouça: Fading Away e Forget About You

7.5
7.5

Sally Shapiro: “Sad Cities”

Ano: 2022

Selo: Italians Do It Better

Gênero: Synthpop, Disco, Italo-Disco

Para quem gosta de: Chromatics, Annie e Robyn

Ouça: Fading Away e Forget About You

/ Por: Cleber Facchi 02/03/2022

Muito antes de Jessie Ware, Dua Lipa, Róisín Murphy e outros nomes recentes decidirem revisitar a música disco, Sally Shapiro e Johan Agebjörn encontraram no curioso olhar para o passado o estímulo para uma sequência de obras marcadas pelo forte aspecto nostálgico. Da estreia com Disco Romance (2006), passando pela produção de registros como My Guilty Pleasure (2009) e Somewhere Else (2013), sobram momentos em que a dupla original de Gotemburgo, na Suécia, costura décadas de referências de forma sempre autoral, conceito que volta a se repetir nas canções de Sad Cities (2022, Italians Do It Better).

Primeiro trabalho de estúdio de Shapiro em nove anos, o sucessor de Somewhere Else não apenas resgata a essência revisionista que marca os registros que o antecedem, como transporta o ouvinte para um território parcialmente novo. Do uso etéreo das vozes, passando pela base atmosférica dos sintetizadores, sobram momentos em que a dupla sueca se concentra na produção de um repertório deliciosamente enevoado. Composições que apontam para as pistas, porém, estabelecem na delicada sobreposição dos elementos um precioso componente de transformação e permanente busca por novas possibilidades.

Posicionada no fechamento do disco, Fading Away talvez seja uma boa representação desse resultado. São pouco mais de sete minutos em que Shapiro e Agebjörn se concentram na produção de uma faixa que se revela ao público em pequenas doses. São incontáveis camadas de sintetizadores, batidas e vozes dobradas que tingem com incerteza e fino toque de mistério a atmosfera proposta pela dupla. Instantes em que os dois artistas preservam parte do material apresentado em Disco Romance, porém, esbarrando no mesmo território criativo de Chromatics, Glass Candy e outros nomes relacionados ao selo Italians Do It Better.

Não por acaso, esse é o primeiro álbum de Shapiro que conta com lançamento pela gravadora de Jhonny Jewel, idealizador de parte expressiva desses projetos e confesso apreciador da música produzida nos anos 1970 e 1980. E isso fica bastante evidente em Down This Road. Completa pela participação de Alex Karlinsky, do Highway Superstar, a faixa de essência atmosférica ganha forma em uma medida própria de tempo, sem pressa. Do uso calculado das guitarras à base empoeirada de sintetizadores e vozes, cada elemento parece pensado para envolver o ouvinte, conceito que acaba se refletindo em diversos outros momentos da obra, como em Christmas Escape e na própria canção de abertura, Forget About You.

Mesmo quando se distancia dessa atmosfera contida, evidente é o esforço dos dois artistas em preservar a essência nostálgica que serve de sustento ao disco. Perfeita representação desse resultado acontece em Sad City. Da construção da batidas ao dinamismo dado aos sintetizadores e vozes, cada elemento da canção parece apontar para a obra de veteranos do city pop, como a passagem para um novo território criativo. O mesmo direcionamento acaba se refletindo minutos à frente, em Million Ways, porém, de forma menos contida, lembrando o material entregue nas coletâneas de remixes apresentadas pela dupla.

Com base nessa criativa combinação de ideias, ritmos e referências que apontam para diferentes campos da música, Sad Cities não apenas cumpre com a função de reapresentar o som produzido pela dupla, como abre passagem para um universo de novas possibilidades. Utilizando do romantismo agridoce explícito nos versos como precioso componente de aproximação entre as faixas, Shapiro e Agebjörn transitam por entre estilos de forma bastante sensível, tratamento que vai do diálogo com diferentes colaboradores, como Electric Youth, na delicada Love In Slow Motion, ao material cuidadosamente assumido pelos dois artistas.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.