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Crítica

Santigold

: "Spirituals"

Ano: 2022

Selo: Little Jerk Records

Gênero: Pop, R&B, Indie Rock

Para quem gosta de: Vampire Weekend e M.I.A.

Ouça: High Priestess e No Paradise

7.5
7.5

Santigold: “Spirituals”

Ano: 2022

Selo: Little Jerk Records

Gênero: Pop, R&B, Indie Rock

Para quem gosta de: Vampire Weekend e M.I.A.

Ouça: High Priestess e No Paradise

/ Por: Cleber Facchi 19/09/2022

A recente citação de Beyoncé no remix de Break My Soul ou mesmo o convite de Tyler, The Creator para colaborar em IGOR (2019) são apenas alguns dos exemplos do impacto cultural e relevância artística de Santigold na produção estadunidense. Personagem de destaque em um cenário dominado por artistas brancos na cena nova-iorquina do início dos anos 2000, a cantora fez do autointitulado registro de estreia um trabalho que não apenas parecia dialogar com o som explorado durante o período, como apontou direções para uma série de outros criadores e vozes negras que viriam a surgir pelos próximos anos.

Perto de completar duas décadas de atuação, Santi White segue tão relevante hoje quanto em início de carreira. Mesmo que ainda pareça intimamente conectada ao universo musical apresentado no hoje cultuado registro de estreia, a artista continua a provar de novas possibilidades e diferentes direções criativas. E isso fica bastante evidente durante toda a execução de Spirituals (2022, Little Jerk Records). Sequência ao material entregue na mixtape I Don’t Want: The Gold Fire Sessions (2018) e primeiro álbum de estúdio desde 99¢ (2016), o trabalho de dez faixas concentra o que há de melhor na obra da cantora.

Mais uma vez acompanhada por um vasto time de colaboradores, como Rostam Batmanglij, Boys Noize e SBTRKT, Santigold continua a se aventurar na criativa combinação de ritmos e referências de forma sempre particular. São canções que sustentam no uso da percussão um passeio curioso pelo continente africano, detalham camadas sintetizadores que apontam para a produção dos anos 1980 e sustentam na flexibilidade das vozes uma importante ferramenta de trabalho. Composições talvez econômicas em uma audição apressada, mas que revelam incontáveis camadas instrumentais, texturas e pequenos acréscimos.

Entretanto, para além desse labirinto sonoro sustentado no interior de cada composição, prevalece em Spirituals a força dos versos e temas sutilmente detalhados pela cantora. São canções pontuadas por questões políticas, conflitos raciais, reflexões sobre o luto e passeios tortuosos pela mente da própria artista. “Eu não posso sentir, é como se eu estivesse paralisada … É minha vida, estou dentro, mas / Estou fora como um passageiro“, detalha na introdutória My Horror, música que sintetiza parte das angústias e tormentos que ecoam ao longo da obra, como em No Paradise, Fall First e na já conhecida Ain’t Ready.

Embora consumido pela sobriedade dos temas, Spirituals está longe de parecer um álbum minimamente arrastado. Assim como nos trabalhos anteriores, Santigold preserva a força dos versos, porém, estabelece pequenos respiros criativos que garantem maior fluidez ao material. Primeira composição do disco a ser apresentada ao público High Priestess funciona como uma boa representação desse resultado. São batidas e guitarras rápidas que trazem de volta a essência das primeiras criações da cantora. A própria Shake, com menos de dois minutos de duração, é outra que surpreende pelo colorido cruzamento de informações.

Livre de possíveis excessos, Santigold faz de Spirituals um trabalho naturalmente bem resolvido e direto ao ponto durante toda sua execução. Mesmo pecando pela ausência de composições grandiosas, como Disparate Youth, The Keepers, Rendezvous Girl e demais faixas que marcam os registros anteriores, prevalece a forte aproximação entre as canções e evidente domínio criativo durante toda a execução do material. Feito para ser absorvido aos poucos, como tudo aquilo que caracteriza as criações da artista, o aguardado sucessor de 99¢ é um álbum que começa pequeno, porém, cresce a cada nova audição.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.