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Crítica

Sault

: "Aiir"

Ano: 2022

Selo: Forever Living Originals

Gênero: Neo-Soul, Pop de Câmara

Para quem gosta de: Ezra Collective e Cleo Sol

Ouça: 4am e Gods Will

7.3
7.3

Sault: “Aiir”

Ano: 2022

Selo: Forever Living Originals

Gênero: Neo-Soul, Pop de Câmara

Para quem gosta de: Ezra Collective e Cleo Sol

Ouça: 4am e Gods Will

/ Por: Cleber Facchi 20/12/2022

De todos os trabalhos já produzidos pelo Sault, Aiir (2022, Forever Living Originals) talvez seja o mais singular. Sequência ao material entregue em Air (2022) e um dos cinco discos revelados pelo coletivo britânico no início de novembro, o registro de cinco faixas chama a atenção pelo repertório orquestral e parcial distanciamento do antigo acervo da banda. São composições que continuam a referenciar o som produzido entre as décadas de 1960 e 1970, porém, partindo de um direcionamento transformado, conceito que vai do uso das vozes ao refinamento instrumental que orienta o álbum durante toda sua execução.

Com pouco menos de cinco minutos de duração, a introdutória 4am não apenas apresenta a proposta adotada por Inflo (Michael Kiwanuka, Little Simz) e seus sempre mutáveis parceiros de estúdio, como destaca o domínio técnico do coletivo inglês. São orquestrações grandiosas, sopros e vozes tratadas como um precioso instrumento criativo. O próprio coro que invade os minutos finais da composição, com suas pequenas oscilações e acréscimos, evidencia o poderio criativo do grupo que surgiu há pouco mais de três anos e surpreendeu logo com os dois primeiros trabalhos de estúdio, 5 e 7, ambos revelados em 2019.

Menos expressiva, mas ainda assim interessante, Hiding Moon, vinda logo em sequência, mais uma vez destaca o minucioso processo de criação do coletivo, porém, pouco acrescenta quando próxima de outras composições ao longo da obra. É como um exercício menor, instantes em que Inflo e seus colaboradores utilizam de diferentes movimentos para capturar a atenção do ouvinte. Entretanto, a completa ausência de vozes e forte similaridade com outros registros do gênero rapidamente faz com que a canção caia em esquecimento, sensação que acaba se refletindo em outros momentos ao longo do repertório de Aiir.

E essa transformação estimulada pelo uso dos vocais fica ainda mais evidente na composição seguinte, Still Waters. Inaugurada em meio a arranjos sutis e uso de pequenos acréscimos, como uma extensão da música anterior, a faixa rapidamente muda de direção quando o coro de vozes garante maior potência ao material. São poucos mais de cinco minutos em que o Sault traz de volta a mesma grandeza explícita em registros como Untitled (Rise) (2020) e Untitled (Black Is) (2020), porém, reservando ao público algumas surpresas, vide o uso de temas orientais e diálogos com a música gospel na segunda metade da canção.

Vem justamente desse caráter religioso, ainda que bastante contido, o estímulo para a canção seguinte, Gods Will. Mesmo desprovida de versos, a canção regida pela força dos vocais concede ao registro um caráter quase transcendental. É como uma combinação do que há de mais sofisticado no tipo de som que vem sendo produzido por Inflo nos últimos anos, vide os recentes trabalhos do artista em parceria com Adele e a velha colaboradora, a rapper Little Simz. De fato, poucas vezes o produtor inglês pareceu tão meticuloso quanto na presente composição, esmero que se reflete até os momentos finais do material.

Escolhida para o encerramento do trabalho, 5am é uma canção que se repete musicalmente, esbarra em conceitos originalmente testados ao longo do registro, porém, mantém firme o refinamento estético e precisão de Inflo mesmo nos momentos de maior instabilidade. O próprio uso das vozes ganha novo significado, como um elemento de conexão com o material entregue minutos antes, na introdutória 4am. Dessa forma, o produtor britânico e seus parceiros fazem do material como um ato isolado dentro da discografia do Sault. Um misto de exercício de estilo e busca por novas possibilidades em estúdio.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.