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Crítica

Saya Gray

: "Saya"

Ano: 2025

Selo: Dirty Hit

Gênero: Art Pop

Para quem gosta de: Nilüfer Yanya e Helena Deland

Ouça: Exhaust The Topic, H.B.W. e Shell (Of a Man)

7.6
7.6

Saya Gray: “Saya”

Ano: 2025

Selo: Dirty Hit

Gênero: Art Pop

Para quem gosta de: Nilüfer Yanya e Helena Deland

Ouça: Exhaust The Topic, H.B.W. e Shell (Of a Man)

/ Por: Cleber Facchi 11/03/2025

Tematicamente falando, Saya (2025, Dirty Hit) é um registro de término, mas os caminhos explorados por Saya Gray são bem diferentes daqueles esperados em uma obra do gênero. Enquanto os versos destacam o forte aspecto emocional do disco, a artista nipo-canadense aproveita para brincar com a fragmentação dos arranjos, melodias e vozes em um delicado exercício criativo de reconexão sonora, lírica e emocional.

Não por acaso, ao inaugurar o trabalho com …Thus Is Why (I Don’t Spring 4 Love), Gray garante ao público uma faixa totalmente desconjuntada. São sintetizadores etéreos, ruídos e pequenas experimentações que ajudam a musicista e o ouvinte a se ambientar ao material. “Onde você estava quando eu mais precisei de você?”, questiona a cantora em um esforço bastante claro de assumir o controle dos próprios sentimentos.

A partir desse ponto, Gray até trilha um percurso tradicional em um momento ou outro, como nos versos impactantes da libertadora Shell (Of a Man), mas é nos momentos de evidente provocação que o trabalho realmente cresce. São experimentos com a música eletrônica, o uso da própria voz como um instrumento e instantes de maior ruptura que ampliam o que a cantora havia testado em obras como 19 Masters (2022).

Exemplo disso fica bastante evidente em Exhaust The Topic. Enquanto os versos mais uma vez reforçam o forte aspecto emocional do trabalho (“Agora estou perdida”), batidas irregulares, guitarras ocasionais e o uso de efeitos tornam tudo ainda mais incerto e fascinante. Mesmo quando tende ao pop, como em How Long Can You Keep Up a Lie?, Gray encontra sempre um componente que balança as estruturas do disco.

Dessa forma, somos arremessados de um canto a outro do registro em um processo tão arrebatador quanto doloroso e liricamente expositivo. Instantes em que Gray vai do reducionismo acústico de 10 Ways (To Lose a Crown), com vozes dobradas que evocam Cat Power, ao mergulho em composições que destacam o uso das batidas, marca de H.B.W., canção que soa como um curioso encontro entre Billie Eilish e Massive Attack.

Obra de camadas, como se pensada para ser absorvida aos poucos, Saya estabelece na desconstrução dos elementos uma maneira de remontar os sentimentos de Gray. Mesmo que muitas dessas canções pareçam ainda incompletas ou profundamente abstratas, como a curta Cats Cradle e Line Back 22, são justamente esses incontáveis retalhos poéticos e instrumentais que ajudam a perceber a complexidade do trabalho.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.