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Críticas

Emily King

: "Scenery"

Ano: 2019

Selo: ATO

Gênero: R&B, Soul, Pop

Para quem gosta de: Christine and The Queens e Alabama Shakes

Ouça: Look at Me Now e Go Back

7.5
7.5

Crítica: “Scenery”, Emily King

Ano: 2019

Selo: ATO

Gênero: R&B, Soul, Pop

Para quem gosta de: Christine and The Queens e Alabama Shakes

Ouça: Look at Me Now e Go Back

/ Por: Cleber Facchi 12/02/2019

Em 2007, quando deu vida ao primeiro álbum de estúdio da carreira, East Side Story, Emily King parecia apenas seguir a trilha de Alicia Keys e outros tantos representantes do R&B/soul norte-americano. Um trabalho marcado pelo refinamento da vozes e emoções lançadas pela cantora e compositora nova-iorquina, porém, ainda livres de qualquer traço de identidade, elemento conquistado aos poucos, principalmente, durante o lançamento do último registro autoral, The Switch (2015), princípio do amadurecimento estético e lírico que embala as canções do terceiro e mais recente trabalho da artista, Scenery (2019, ATO).

Primeiro registro de King com distribuição pela ATO Records, gravadora por onde já passaram nomes como Alabama Shakes, Natalie Prass e Hurray for the Riff Raff, o trabalho de 12 faixas não apenas dialoga, como sutilmente amplia parte da estrutura e sonoridade que vem sendo incorporada por outros representantes do mesmo selo. Pouco mais de 40 minutos em que melodias empoeiradas passeiam pelo pop, rock e soul produzido entre os anos 1970 e 1980.

Não por acaso, a cantora escolheu justamente a inaugural Remind Me como primeiro single do disco. Entregue ao público ainda no último ano, a faixa ganha forma aos poucos, revelando fragmentos de vozes, sintetizadores e a uma linha de baixo elegante que lembra a boa fase de Michael Jackson entre os clássicos Off the Wall (1979) e Thriller (1982). De fato, grande parte do presente álbum parece dialogar com a obra do Rei do Pop. Um permanente resgate criativo que faz lembrar o trabalho da francesa Christine and The Queens no ainda fresco Chris (2018).

De essência nostálgica, vez ou outra, Scenery vai ainda mais longe em seu delicado passeio pelo tempo. Exemplo disso está no pop nostálgico que embala a agridoce Look At Me Now, composição que transborda a atmosfera da Motown no fim da década de 1960. Do uso minucioso das harmonias de vozes, passando pela inserção de pianos e percussão minimalista, cada fragmento da canção parece servir de alicerce para os sentimentos que embalam os versos de King. “Você ouviu sobre mim? / Eu saí do chão / Eu me levantei quando você saiu / Olhe para mim agora“, canta em um ato de profunda transformação pessoal.

A mesma força e entrega de King na composição dos versos acaba se refletindo na faixa de encerramento do disco, Go Back. “Tive algumas dores no coração / Pesou como uma pedra / Bem, eu lambi minhas feridas, não tenho nada a perder / Estou saindo sozinha / Eu nunca vou voltar“, canta enquanto sintetizadores e batidas pontuais encolhem e crescem a todo instante, valorizando cada nota lançada pela cantora. Instantes que se projetam em um misto de dor e libertação, estrutura que acaba se refletindo com naturalidade durante toda a execução do trabalho.

Verdadeiro labirinto de emoções que se completa pela presença do produtor Jeremy Most, parceiro da cantora desde o álbum anterior, Scenery pouco a pouco parece alavancar os sentimentos expressos pela artista. São faixas como Teach You, Forgiveness e Can’t Hold Me em que a compositora transforma as próprias desilusões e experiências particulares em música. Frações poéticas que ora confessam as angústias (“Pensei que você fosse meu único amor“), ora celebram as principais conquistas de King (“Mas eu encontrei alguém com um toque perfeito“), direcionamento que orienta a experiência do ouvinte até o último instantes da obra.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.