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Crítica

ScHoolboy Q

: "Blue Lips"

Ano: 2024

Selo: Top Dawg Entertainment / Interscope

Gênero: Hip-Hop, Rap

Para quem gosta de: Kendrick Lamar e Ab-Soul

Ouça: THank God 4 Me, Pop e Foux

7.8
7.8

ScHoolboy Q: “Blue Lips”

Ano: 2024

Selo: Top Dawg Entertainment / Interscope

Gênero: Hip-Hop, Rap

Para quem gosta de: Kendrick Lamar e Ab-Soul

Ouça: THank God 4 Me, Pop e Foux

/ Por: Cleber Facchi 21/03/2024

Em algum momento ao longo da última década, ScHoolboy Q entrou em modo automático e passou por um processo de simplificação da própria obra, o que culminou na entrega do que talvez seja seu disco menos interessante até aqui, CrasH Talk (2019). Satisfatório perceber em Blue Lips (2024, Top Dawg Entertainment / Interscope), sexto e mais recente álbum de estúdio do artista, um repertório que não apenas rompe com esse conceito anticlimático expresso no trabalho anterior, como resgata a força criativa do rapper.

Utilizando do período de isolamento social a seu favor, o artista e seus parceiros de produção parecem ter mergulhado em um meticuloso processo de pesquisa, seleção dos samples e construção das bases que saltam aos ouvidos logo nos minutos iniciais. São ecos de MF DOOM e Nas, mas que em nenhum momento ocultam a identidade do próprio rapper, como um aceno para o som empoeirado dos primeiros registros autorais, principalmente Habits & Contradictions (2012), com sua atmosfera característica de uma mixtape.

Exemplo disso fica bastante evidente na insana First. Música em que parte de trechos da obra do Death Grips, com MC Ride gritando “eu fui o primeiro a foder aquela vadia“, para logo em seguida mergulhar em uma composição marcada pelos excessos, conceito que marca o trabalho do rapper desde as primeiras empreitadas em estúdio, mas que ganhou maior refinamento nos psicodélicos Oxymoron (2014) e Blank Face (2016). E ela não é a única, afinal, há sempre uma canção em que o artista testa os próprios limites.

É como uma passagem direta para a mente e inquietações de ScHoolboy Q. Uma turbulenta combinação de sexo, delírios lisérgicos e viagens egoicas, vide composições como THank god 4 me, porém, pontuada por momentos de necessária calmaria que levam o trabalho para diferentes direções, rompendo com o aspecto monotemático e ausência de surpresa característica do disco anterior. A própria Germany 86′, inspirada por memórias da infância do artista que nasceu em uma base dos Estados Unidos na Alemanha Ocidental, mas acabou criado na região Sul de Los Angeles, funciona como preciosa representação desse resultado.

Interessante notar que mesmo dentro desse território criativo tão particular, íntimo do artista, ScHoolboy Q deixa frestas abertas para a chegada de diferentes colaboradores que se conectam de forma eficiente com o tema central de cada canção. É o caso de Pop, música em que reafirma o próprio domínio dentro do rap, celebra conquistas pessoais e ainda abre passagem para uma Rico Nasty completamente insana. O mesmo acontece em Foux, reencontrou com Ab-Soul e uma ode às noites de sexo e consumo excessivo de drogas.

Estranhamente coeso, mesmo no caótico fluxo de informações despejadas pelo artista, Blue Lips acaba se revelando como um dos trabalhos mais equilibrado da carreira de ScHoolboy Q. É como se para cada momento de delírio, como em Yeern 101, houvesse sempre uma contraparte marcada pela suavidade dos elementos, vide Blueslides. São diferentes atravessamentos de informações que invariavelmente resultam em alguns excessos, prejudicando o andamento do disco próximo dos minutos finais, porém, essenciais para entender como funciona a mente e o turbulento processo criativo que orienta as canções do rapper.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.