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Crítica

Shellac

: "To All Trains"

Ano: 2024

Selo: Touch and Go

Gênero: Rock

Para quem gosta de: Unwound e The Jesus Lizard

Ouça: WSOD, Chick New Wave e I Don't Fear Hell

8.0
8.0

Shellac: “To All Trains”

Ano: 2024

Selo: Touch and Go

Gênero: Rock

Para quem gosta de: Unwound e The Jesus Lizard

Ouça: WSOD, Chick New Wave e I Don't Fear Hell

/ Por: Cleber Facchi 01/07/2024

Antes que a voz de Steve Albini seja despejada em WSOD, composição de abertura em To All Trains (2024, Touch and Go), o guitarrista e seus parceiros de banda no Shellac, o baterista Todd Trainer e o baixista Bob Weston, fazem questão de que cada instrumento seja não apenas apresentado, como sentido pelo ouvinte. Da guitarra matemática que dá voltas em torno dela mesma, passando pela densa linha de baixo à precisão aplicada às batidas, cada fragmento instrumental logo assume sua função e parece estar ali por um motivo.

É partindo justamente desse meticuloso processo criativo, ainda que profundamente intenso e cru, que o trio de Chicago orienta a experiência do ouvinte no primeiro trabalho de inéditas em dez anos e o último sob a regência de Albini, produtor, engenheiro de som e multi-instrumentista que faleceu dias antes ao lançamento do disco. Canções montadas a partir de movimentos calculados, como um acumulo natural de tudo aquilo que o músico e seus companheiros de banda têm explorado desde o início da década de 1990.

Em Girl From Outside, por exemplo, cada instrumento parece inserido em uma medida própria de tempo, como um cálculo matemático que culmina no fechamento catártico da canção. Da progressão da linha de baixo à forma como os pratos da bateria começam a se derreter sobre as guitarras de Albini, difícil não se deixar conduzir pelos processos sempre minimalistas e meticulosos que o músico busca articular dentro de estúdio. São composições que buscam organizar o caos a partir de um conjunto particular de regras.

Nada que impossibilite a entrega de músicas marcadas pela fluidez dos elementos, como um necessário exercício de libertação. Exemplo disso fica bastante evidente em Tattoos. Enquanto a voz de Albini segue em um misto de canto e rima, arranjos calculados lentamente fogem ao controle, ampliando os limites da canção. Esse mesmo direcionamento, porém, partindo de uma abordagem ainda mais urgente, por vezes punk, pode ser percebida em Chick New Wave, composição que arremessa o ouvinte de um canto a outro.

O mais impressionante talvez seja perceber como esses diferentes movimentos e quebras instrumentais são organizados dentro do álbum em intervalos de pouquíssimos segundos. Salve exceções como How I Wrote How I Wrote Elastic Man (Cock & Bull) e I Don’t Fear Hell, com sua necessária atmosfera densa, Albini não precisa de mais do que alguns minutos para apresentar e perverter seu sempre estratégico catálogo de regras. Composições que desferem golpes rápidos e certeiros, totalmente impossíveis de serem previstos.

Naturalmente, isso está longe de parecer uma surpresa para quem há tempos acompanha o trabalho da banda ou as criações de Albini como produtor, vide obras essenciais de artistas como Pixies, The Jesus Lizard e Nirvana. Ainda assim, três décadas após o lançamento do introdutório At Action Park (1994), notável é o esforço do guitarrista e seus colaboradores em manter a mesma potência dentro de estúdio, proposta que faz de To All Trains o encerramento perfeito para a curta e sempre precisa obra do Shellac.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.