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Crítica

Shinichi Atobe

: "Love Of Plastic"

Ano: 2022

Selo: DDS

Gênero: Eletrônica, Deep House

Para quem gosta de: DJ Python e Skee Mask

Ouça: Love Of Plastic 5 e Love Of Plastic 8

7.8
7.8

Shinichi Atobe: “Love Of Plastic”

Ano: 2022

Selo: DDS

Gênero: Eletrônica, Deep House

Para quem gosta de: DJ Python e Skee Mask

Ouça: Love Of Plastic 5 e Love Of Plastic 8

/ Por: Cleber Facchi 01/02/2022

Em julho de 2020, quando o mundo se trancava dentro de casa em um dos períodos mais críticos da pandemia de Covid-19, Shinichi Atobe fez muita gente dançar com o lançamento do celebrativo Yes. Marcado pela atmosfera ensolarada e batidas quentes, o trabalho parecia pensado para transportar o ouvinte para um novo cenário, como uma fuga da atmosfera melancólica e completa ausência de certeza a que fomos submetidos. Satisfatório perceber nas canções de Love Of Plastic (2022, DDS), mais recente registro de inéditas do produtor japonês, uma extensão natural desse mesmo direcionamento criativo.

Pronto para as pistas, como tudo aquilo que define as criações de Atobe desde os primeiros registros autorais, o trabalho de nove faixas faz de cada canção um objeto isolado. Ainda que parte expressiva do repertório utilize de uma nomenclatura similar, a abordagem explorada pelo produtor é bastante plural. E isso fica bastante evidente na separação entre Love of Plastic 1 e Love of Plastic 5. Enquanto a primeira reflete o lado mais acessível da obra, com a música seguinte, o artista brinca com as possibilidades, investindo em batidas e ambientações inexatas que apontam para a produção eletrônica dos anos 1990.

Nada que se compare ao material entregue na frenética Love of Plastic 8. Perfeita combinação entre esses dois extremos da obra, a canção de quase seis minutos de duração reflete a capacidade do artista em transitar por entre estilos e testar os próprios limites em estúdio, porém, de maneira sempre equilibrada. São incontáveis camadas instrumentais, batidas e quebras rítmicas que mudam de direção a todo instante. Um ziguezaguear de ideias que vai do uso destacado dos sintetizadores à inserção fragmentada da percussão e outros acréscimos que garantem maior profundidade ao som produzido pelo artista japonês.

Mesmo nos poucos momentos em que desacelera, como em Ocean 2, há sempre um esmero no processo de criação do produtor. Inaugurada em meio a sintetizadores nostálgicos e batidas cuidadosamente encaixadas, a faixa de quase oito minutos parece pensada para envolver o ouvinte. É como se cada elemento fosse revelado ao público em uma medida própria de tempo. Essa mesma leveza, porém, partindo de outro direcionamento estético, acaba se refletindo em Beyond The Pale, composição que utiliza de ambientações enevoadas, típicas do dub, de forma a ampliar criativamente o campo de atuação de Atobe.

O problema é que muitas dessas composições, mesmo trabalhadas de forma essencialmente detalhista, acabam se resolvendo em um curto período de tempo. Salve exceções, como a já citada Love of Plastic 5, poucas são as faixas capazes de replicar o caráter imersivo evidente em obras como Heat (2018), onde parte expressiva das músicas se espalhavam em um intervalo de quase dez minutos de duração, capturando a atenção do ouvinte. São canções que mais parecem fragmentos de ideias, como na curtinha Loop 6, onde Atobe apresenta uma série de conceitos interessantes, porém, de maneira incompleta.

Entretanto, uma vez imerso nesse ambiente de formas inexatas e batidas que apontam para diferentes direções criativas, difícil não se deixar conduzir pela experiência proposta pelo produtor japonês. Como indicado logo nos primeiros minutos da obra, Atobe se concentra na formação de um repertório talvez livre do caráter imersivo e composições labirínticas que marcam os primeiros registros de inéditas, mas não menos detalhistas. São batidas, sintetizadores marcados pelas texturas e fragmentos de vozes que se entrelaçam em uma imprevisível combinação de ideias que invariavelmente convidam o ouvinte a dançar.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.