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Crítica

Sigur Rós

: "Átta"

Ano: 2023

Selo: Krunk

Gênero: Pós-Rock

Para quem gosta de: Explosions In The Sky e Múm

Ouça: Blóðberg, Skel e 8

6.5
6.5

Sigur Rós: “Átta”

Ano: 2023

Selo: Krunk

Gênero: Pós-Rock

Para quem gosta de: Explosions In The Sky e Múm

Ouça: Blóðberg, Skel e 8

/ Por: Cleber Facchi 23/06/2023

Átta (2023, Krunk), como tudo aquilo que o Sigur Rós tem produzido em quase três décadas de carreira, é um trabalho de inegável beleza. Do momento em que tem início, na atmosférica Glóð, cada fragmento do registro de dez faixas parece cuidadosamente planejado pelo grupo que hoje tem como seus integrantes os músicos Jónsi, Georg Hólm e Kjartan Sveinsson. Das vozes tratadas como um instrumento, passando pelo uso orquestral dos arranjos, batidas econômicas e temas transcendentais, tudo se apresenta de forma a emocionar o ouvinte, como uma combinação do que há de mais característico no som da banda islandesa.

Embora capaz de suprir a carência do público, há dez anos sem acesso a um novo registro de inéditas da banda, o sucessor do sombrio Kveikur (2013) se apresenta como uma obra de beleza quase estéril. Dos momentos de respiro às estruturas ascendentes, não há nada em Átta que o trio islandês já não tenha incorporado anteriormente. E isso fica mais evidente quando voltamos os ouvidos para o material entregue nos primeiros trabalhos de estúdio do grupo, como Ágætis Byrjun (1999) e ( ) (2002), inesgotáveis fontes de inspiração para o repertório que embala a experiência do ouvinte até os minutos finais do presente álbum.

Exemplo disso pode ser percebido em Klettur. Marcada pela excelência do trio, que em estúdio contou com a colaboração da London Contemporary Orchestra, além de um time seleto de instrumentistas da cena islandesa, a canção ganha forma e cresce aos poucos, culminando em um fechamento quase apoteótico em que a voz de Jónsi preenche todos os espaços. Entretanto, quando a observamos atentamente, essa mesma estrutura pode ser percebida em uma série de outras composições previamente apresentadas pela banda e talvez melhor executadas, vide a forte similaridade com a ascendente Glósóli, do álbum Takk… (2004).

São espelhamentos constantes, porém, livres da potência, permanente sensação de catarse e forte carga emocional que orientou muitas das criações do grupo no início dos anos 2000. Parte expressiva desse resultado vem da decisão da banda e diminuir o espaço da bateria e praticamente limar o uso de outros componentes percussivos, efeito direto da saída de Orri Páll Dýrason, baterista que foi desligado do Sigur Rós após denúncias de assédio sexual no fim da década passada. O resultado desse processo está na entrega de uma obra ausente de ritmo e que custa a avançar, substituindo a euforia inicial por cansaço.

Entretanto, não estamos lidando com uma banda iniciante, mas hábeis artesãos na capacidade de atrair, capturar e manipular a experiência do público. Dessa forma, mesmo composições mergulhadas em uma solução formulaica convencem o ouvinte. Em Skel, por exemplo, são os temas orquestrais que surgem e desaparecem durante toda a execução da faixa que abre passagem para um mundo mágico. A própria música de encerramento, 8, com quase dez minutos de duração, é outra que surpreende, reforçando a densidade dos pianos e bases previamente reveladas em Blóðberg, espécie de canção síntese do disco.

Mesmo carente de originalidade, Átta se revela ao público como um testemunho da capacidade do Sigur Rós em convencer pela força das emoções e minucioso processo de criação da banda. É como reencontrar um velho amigo, perceber que você ainda sente carinho por ele, mesmo que suas interpretações sobre a realidade já não sejam mais compatíveis. Um exercício de regresso, mas que a todo momento tropeça no próprio passado, como uma tentativa do grupo em se reorganizar após tanto tempo longe de estúdio.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.