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Crítica

Skee Mask

: "Pool"

Ano: 2021

Selo: Ilian Tape

Gênero: Eletrônica, Techno, Experimental

Para quem gosta de: Shinichi Atobe e Aphex Twin

Ouça: CZ3000 Dub e Stone Cold 369

8.0
8.0

Skee Mask: “Pool”

Ano: 2021

Selo: Ilian Tape

Gênero: Eletrônica, Techno, Experimental

Para quem gosta de: Shinichi Atobe e Aphex Twin

Ouça: CZ3000 Dub e Stone Cold 369

/ Por: Cleber Facchi 24/06/2021

Pool (2021, Ilian Tape), como tudo aquilo que Bryan Müller tem produzido sob o título de Skee Mask, é uma obra que exige tempo e imersão do ouvinte. Concebido a partir de micro-ambientações, ruídos e batidas reducionistas, o trabalho de 18 faixas mostra a capacidade do produtor alemão em lidar com os instantes, direcionamento reforçado durante a produção do antecessor Compro (2018), de onde vieram composições como Session Add e Flyby Vfr, porém, de forma ainda mais detalhista e estranhamente irregular. Atravessamentos instrumentais e rítmicos que se distanciam das pistas, marca do introdutório Shred (2016), mas em nenhum momento utilizam de uma abordagem morosa, fazendo da imprevisível sobreposição de ideias um importante componente de renovação.

Partindo dessa estrutura, Müller divide o trabalho em dois blocos específicos de canções. O primeiro deles, bem representado pela introdutória Nvivo, mostra o lado mais atmosférico do artista germânico. São ambientações enevoadas e batidas cuidadosamente encaixadas pelo produtor, como uma extensão natural do repertório entregue durante o lançamento do álbum anterior. É como se Skee Mask fosse de encontro ao mesmo território criativo de Aphex Twin, principalmente quando voltamos os ouvidos para os contemplativos Selected Ambient Works 85–92 (1992) e Selected Ambient Works Volume II (1994), porém, preservando o uso de melodias delirantes que apontam para obra de outros produtores recentes, vide as criações de Shinichi Atobe no ensolarado Yes (2020).

São essas mesmas ambientações etéreas que proporcionam ao ouvinte alguns dos momentos de maior renovação da obra. Exemplo disso fica bastante evidente em Rio Dub, música que parte de uma estrutura ensolarada, típica de outros exemplares do gênero, porém, cresce na permanente sobreposição de ruídos, texturas e batidas ecoadas, sempre submersas. Esse mesmo direcionamento ganha ainda mais destaque em CZ3000 Dub, composição que acelera e sobrevive da permanente manipulação das batidas, mas que carrega no uso dos sintetizadores e incontáveis paisagens instrumentais a passagem para um cenário deliciosamente lisérgico. São novas tonalidades, cores e rumos talvez imprevisíveis quando voltamos os ouvidos para a atmosfera fria expressa em Compro.

Já o bloco seguinte, sustentado de maneira evidente pela força das batidas, mostra um artista disposto a ampliar os próprios domínios. E isso fica bem representado na sequência composta por Collapse Casual e Breathing Method. São pouco mais de dez minutos em que o produtor preserva a essência dos antigos trabalhos, porém, incorpora uma série de novos elementos, ritmos e quebras conceituais. Da inusitada escolha dos samples ao uso fragmentado dos sintetizadores, poucas vezes antes o som produzido por Müller pareceu tão grandioso e complexo. E isso se reflete em diversos outros momentos ao longo da obra, como em Testo BC Mashup, faixa que costura três ou mais décadas de referências sem necessariamente fazer disso o estímulo para uma canção confusa.

Claro que isso não exime Müller de uma série de faixas excessivamente simplistas e que pouco contribuem para o desenvolvimento do disco. É o caso de Absence, música em que parece emular os temas urbanos de artistas como Burial, porém, livre do mesmo esmero e incontáveis camadas instrumentais que parecem submersas nas criações do produtor inglês. O mesmo acontece com a pulsante Crosssection, composição que aponta para a cena eletrônica dos anos 1990, mas em nenhum momento parece alcançar o mesmo aprofundamento explícito no restante do disco. São justamente esses pequenos excessos que estendem o álbum para além de uma duração tolerável, reforçando uma sensação de desgaste que fica bastante evidente na segunda metade do registro.

Mesmo consumido pelos excessos, Pool encanta pela capacidade de Müller em provar de novas possibilidades e se arriscar criativamente em um território que facilmente tende à repetição. Seja nos momentos de maior calmaria ou na entrega de canções regidas pela fluidez das batidas, cada fragmento da obra mostra a tentativa do artista em se reinventar. São canções que a todo momento esbarram em conceitos e estruturas previamente incorporadas pelo produtor alemão, principalmente quando voltamos os ouvidos para o material apresentado em Compro, mas que acabam crescendo na incorporação de novos elementos e passeios por uma corredeira de sons e variações pouco usuais. Instantes em que Skee Mask preserva a própria essência em necessariamente tropeçar na mesmice.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.