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Crítica

Sobs

: "Air Guitar"

Ano: 2022

Selo: Topshelf

Gênero: Indie Rock, Power Pop

Para quem gosta de: Alvvays e Hatchie

Ouça: Air Guitar e Friday Night

7.6
7.6

Sobs: “Air Guitar”

Ano: 2022

Selo: Topshelf

Gênero: Indie Rock, Power Pop

Para quem gosta de: Alvvays e Hatchie

Ouça: Air Guitar e Friday Night

/ Por: Cleber Facchi 06/01/2023

Ouvidos apontados para o passado, olhos sempre atentos ao presente. Formado por Celine Autumn, Jared Lim e Raphael Ong, Sobs é um trio original de Singapura que parece resgatar uma série de referências empoeiradas, porém, partindo de uma abordagem deliciosamente atualizada. Entre ecos da coletânea C86 e guitarras que concentra para o que há de mais acessível e melódico no som da década de 1970, o grupo trabalha sentimentos e versos intimistas de forma a estreitar relações com o ouvinte. Um delicado exercício criativo que rompe com o pop caseiro de Telltale Signs (2018) para crescer em Air Guitar (2022, Topshelf).

Segundo álbum de estúdio da banda e primeiro registro a contar com divulgação internacional pelo selo Topshelf, por onde passaram nomes como Really From e Touché Amoré, Air Guitar é um trabalho que encanta logo em uma primeira audição. São oito composições que destacam a capacidade do trio em traduzir emoções em uma abordagem tão pegajosa quanto sutilmente barulhenta. Canções que invadem o mesmo território criativo explorado por contemporâneos como Alvvays e Charly Bliss, flertam com o uso bases sintéticas e sustentam na construção dos versos um precioso exercício de exposição emocional.

Talvez seja hora de reconhecermos as flores que não somos / Que fingimos ser“, sugere Autumn na autointitulada canção de abertura. Pouco mais de três minutos em que o trio parte de uma nostálgica base de guitarras, lembrando as criações de veteranos como Big Star, para mergulhar em um oceano de ruídos e vozes sobrepostas que ampliam o campo de atuação da banda. É como uma interpretação ainda mais urgente e complexa de tudo aquilo que o grupo havia testado no registro anterior, direcionamento que se completa pelo uso de sintetizadores e texturas que destacam o trabalho de Lim como produtor do disco.

Embora marcado pelo evidente amadurecimento no processo de criação, Air Guitar é um registro que preserva o característico frescor do trio de Singapura. Quarta faixa do disco, Friday Night talvez seja a principal representação desse resultado. Inaugurada em meio a camadas de guitarras e batidas rápidas que apontam para o rock dos anos 1990, a canção pouco a pouco se transforma e utiliza de fragmentos eletrônicos que vão da trilha sonora de jogos de vídeo-game ao catálogo da PC Music. A própria música de encerramento, LOML, mesmo partindo de uma abordagem diferente, traz de volta os mesmos elementos.

Nada que pareça prejudicar o domínio das guitarras e uso de bases ruidosas que invadem a construção do registro. Exemplo disso fica bastante evidente em Burn Book. Enquanto os versos destacam o fino toque de melancolia que consome o disco (“Eu existo em outro palco quando você acende as luzes / Enterre meu rosto em outra fuga“), texturas acinzentadas crescem ao fundo da canção. Mesmo quando utiliza de uma abordagem graciosa e melódica, como em Dealbreaker, logo na abertura do trabalho, há sempre um ponto de ruptura que destaca a capacidade da banda em transitar por entre estilos de forma particular, torta.

Dessa forma, o trio amplia o próprio campo de atuação em estúdio e captura a atenção do ouvinte sem grandes dificuldades, porém, estabelece nesse aspecto inconstante sua maior deficiência. Salve óbvias exceções, como a já citada Friday Night, onde o uso de elementos sintéticos é incorporado aos poucos, preparando o terreno, parte expressiva do trabalho ecoa de maneira incompleta, revelando esboços ocasionais e curvas criativas que parecem distrair o ouvinte. São momentos de maior instabilidade que diminuem a potência do disco, mas nunca o esforço da banda em testar criativamente os próprios limites.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.