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Crítica

Soul Glo

: "Diaspora Problems"

Ano: 2022

Selo: Epitah

Gênero: Rock, Hardcore, Punk

Para quem gosta de: The Armed e Special Interest

Ouça: Gold Chain Punk e Driponomics

8.8
8.8

Soul Glo: “Diaspora Problems”

Ano: 2022

Selo: Epitah

Gênero: Rock, Hardcore, Punk

Para quem gosta de: The Armed e Special Interest

Ouça: Gold Chain Punk e Driponomics

/ Por: Cleber Facchi 11/04/2022

Diaspora Problems (2022, Epitah) é um desses trabalhos que acertam o ouvinte logo na primeira música. Passada a cômica introdução que emula por meio de um bong a vinheta da 20th Century Fox, o vocalista Pierce Jordan questiona aos berros: “Eu posso viver?“. É partindo desse direcionamento angustiado que o grupo, completo pelos músicos Ruben Polo (guitarras), GG (baixo) e TJ Stevenson (bateria), orienta a experiência do ouvinte durante toda a execução do material. São canções ancoradas em conflitos raciais, críticas ao capitalismo e violências vividas pelos próprios integrantes do grupo original da Filadélfia.

Entretanto, para além do evidente aprofundamento político e vivências expostas de forma sempre visceral, sobrevive no humor torto adotado pela banda um importante componente criativo para o fortalecimento de Diaspora Problems. “Olhos abertos e novamente estou inseguro / Olhos abertos e novamente estou no dia 15, vendo 20 policiais correrem em minha direção para proteger um banco“, brinca na descritiva John J, colaboração com Kathryn Edwards e Zula Wildheart, em que reflete de maneira bastante sóbria, ainda que leve e bem-humorada, sobre todas as implicações de ser um homem negro vivendo nos Estados Unidos.

Essa mesma abordagem equilibrada acaba se refletindo durante toda a execução da obra. Composições marcadas pela brutalidade dos temas, porém, nunca óbvias. É como se Jordan optasse pelo caminho menos confortável, arremessando o ouvinte de um canto a outro em meio a versos sempre detalhistas e totalmente caóticos. Exemplo disso fica bastante evidente em Jump!! (Or Get Jumped!!!)((by the future)), música que segue em um misto de canto e rima, potencializando as inquietações compartilhadas pelo vocalista. Um turbulento exercício criativo que se reflete até a derradeira Spiritual Level Of Gang Shit.

E não são apenas os versos que tingem com incerteza a experiência do ouvinte. Do momento em que tem início, em Gold Chain Punk (whogonbeatmyass?), cada mínimo fragmento instrumental parece pensado de forma a tensionar os limites da obra. São blocos colossais de ruídos, quebras e momentos de maior experimentação que tornam a execução do material sempre imprevisível. Perfeita representação desse resultado acontece em Driponomics. Pouco mais de dois minutos em que o grupo, acompanhado pela rapper Mother Maryrose, se distancia do punk/hardcore para provar de uma base totalmente sintética.

Parte desse resultado vem do esforço claro do grupo em estreitar a relação com diferentes colaboradores, garantindo ao disco uma identidade plural. São diferentes atravessamentos, ritmos e vozes que não apenas distanciam o Soul Glo de outros nomes da cena norte-americana, como concedem ao trabalho um acabamento único. Claro que essa quantidade insana de informações vez ou outra tende ao excesso, principalmente na segunda metade do registro, quando a versatilidade e surpresa expressa nos minutos iniciais dá lugar ao mais completo caos. Canções que parecem empilhadas pela banda forma aleatória.

Embora instável, difícil pensar em um acabamento diferente para o material apresentado em Diaspora Problems. Concebido em um intervalo de cinco anos, com outros registros sendo revelados pela banda nesse mesmo espaço de tempo, o trabalho funciona como uma insana compilação de faixas produzidas de maneira propositadamente desordenada. É como um produto natural das vivências, dores e inquietações compartilhadas entre os próprios integrantes. Composições que mesmo dotadas de um lirismo particular, detalham aspectos bastante característicos, por vezes documentais, da sociedade norte-americana.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.