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Crítica

Spirit of the Beehive

: "Entertainment, Death"

Ano: 2021

Selo: Saddle Creek

Gênero: Indie Rock, Pop Psicodélico, Noise Pop

Para quem gosta de: Ian Sweet, MGMT e Deerhunter

Ouça: There's Nothing You Can't Do e Wrong Circle

8.0
8.0

Spirit of the Beehive: “Entertainment, Death”

Ano: 2021

Selo: Saddle Creek

Gênero: Indie Rock, Pop Psicodélico, Noise Pop

Para quem gosta de: Ian Sweet, MGMT e Deerhunter

Ouça: There's Nothing You Can't Do e Wrong Circle

/ Por: Cleber Facchi 20/04/2021

Perturbadora, a ilustração produzida pela baixista Rivka Ravede para a capa de Entertainment, Death (2021, Saddle Creek), quarto álbum de estúdio do Spirit of the Beehive, funciona como uma estranha representação visual e passagem para o delirante território criativo explorado pelo grupo de Filadélfia, Pensilvânia. Sequência ao material entregue em Hypnic Jerks (2018), o trabalho produzido durante o período de isolamento social, evidencia o esforço do trio completo pelo guitarrista Zack Schwartz e o multi-instrumentista Corey Wichlin em testar os próprios limites dentro de estúdio. Composições que preservam a identidade psicodélica que tem sido explorada desde os primeiros registros da banda, porém, partindo de uma abordagem deliciosamente torta e imprevisível.

E isso fica bastante evidente logo nos primeiros minutos da obra, na introdutória Entertainment. São pouco menos de três minutos em que o trio norte-americano passeia em meio a microfonias, camadas de ruídos e melodias que ora apontam para o rock submerso do Deerhunter, ora fazem lembrar do pop psicodélico de bandas como MGMT e Neon Indian. Um criativo cruzamento de ideias que muda de direção a todo instante, jogando com a interpretação do público, porém, de forma sempre convidativa. São camadas e mais camadas, vozes tratadas como instrumentos e pequenas sobreposições estéticas que não apenas confessam algumas das principais referências do grupo, como distanciam conceitualmente o Spirit of the Beehive de qualquer outro projeto em atuação.

Parte desse curioso processo de transformação e busca por novas possibilidades vem justamente do sentimento de insatisfação do grupo após o lançamento de Hypnic Jerks. “Nós sabíamos que queríamos usar novos elementos instrumentais nesse álbum. Não estamos nos tornando totalmente eletrônicos, mas guitarra, baixo e bateria se tornam monótonos”, comentou Schwartz no texto de apresentação do trabalho. Não por acaso, parte expressiva da obra se abre para o uso destacado de sintetizadores, batidas eletrônicas e samples extraídos de diferentes campos da música. São canções que utilizam da permanente sobreposição de ideias, quebras e narrativas pouco usuais, proposta que embala a experiência do ouvinte mesmo nos momentos de maior calmaria.

Exemplo claro disso acontece em There’s Nothing You Can’t Do. Inaugurada em meio a fragmentos de vozes e guitarras que naturalmente apontam para os primeiros discos da banda, a canção rapidamente se transforma em um turbilhão instrumental que muda de direção a todo instante. Utilizando da voz atmosférica de Ravede como único elemento de conexão com o ouvinte, o grupo brinca com a sobreposição de ritmos e fragmentos eletrônicos que culminam em um fechamento catártico, produto direto da interferência brusca de Schwartz. “Eu serei seu amigo / Na morte e na juventude“, repete em meio a gritos e explosões furiosas, estrutura que acaba se refletindo em diversos outros momentos ao longo da obra, contudo, de forma cada vez mais abstrata e inventiva.

São canções como Give Up Your Life, I Suck The Devil’s Cock e Wake Up (In Rotation) em que o grupo utiliza dessa permanente fragmentação como um precioso componente rítmico, proposta que orienta a experiência do ouvinte até a derradeira Death. Claro que isso não interfere na produção de músicas essencialmente lineares, como um resgate da atmosfera branda explícita em Hypnic Jerks. É o caso de The Server Is Immersed, faixa que vai de encontro ao dream pop de artistas como Dehd e DIIV, porém, preservando a essência criativa da banda. A própria faixa de encerramento do álbum, mesmo pontuada por momentos de maior delírio, evidencia o cuidado do trio no tratamento dado às melodias e vozes que parecem saídas de algum disco do The Flaming Lips.

Tamanha riqueza de detalhes vem justamente de um longo processo de amadurecimento artístico da banda. Da estreia com o homônimo disco de 2014, passando pela produção de Pleasure Suck (2017) ao refinamento melódico explícito em Hypnic Jerks, cada novo registro apresentado pelo grupo serve de base para o lançamento seguinte. Entretanto, ao mergulhar nas canções de Entertainment, Death, o trio rompe totalmente com essa ordem. Mesmo incorporando uma série de elementos originalmente testados nos primeiros registros, a proposta passa a ser outra. Composições quebradiças que estabelecem na fragmentação lírica e instrumental um importante componente de renovação, como o início de uma nova e ainda mais inventiva fase na carreira do Spirit of the Beehive.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.