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Crítica

Spiritualized

: "Everything Was Beautiful"

Ano: 2022

Selo: Bella Union / Fat Possum

Gênero: Rock Psicodélico

Para quem gosta de: Mercury Rev e Primal Scream

Ouça: Always Together With You e The a Song

8.0
8.0

Spiritualized: “Everything Was Beautiful”

Ano: 2022

Selo: Bella Union / Fat Possum

Gênero: Rock Psicodélico

Para quem gosta de: Mercury Rev e Primal Scream

Ouça: Always Together With You e The a Song

/ Por: Cleber Facchi 04/05/2022

É sempre muito prazeroso mergulhar na obra de Jason Pierce. Dono de um extenso repertório que se acumula desde o início da década 1990, o cantor, compositor, multi-instrumentista e produtor tem feito de cada novo trabalho como Spiritualized a passagem para um território de emanações psicodélicas e versos sempre marcados pela força dos sentimentos. São composições que partem das inquietações, memórias e romances do músico inglês, porém, sempre dotadas de uma linguagem universal, conceito reforçado de forma bastante explícita com a chegada de Everything Was Beautiful (2022, Bella Union / Fat Possum).

Nono e mais recente trabalho de estúdio entregue pelo artista, o registro concebido durante o período de isolamento social funciona como uma síntese clara de tudo aquilo que Pierce tem produzido há mais de três décadas. E isso fica bastante evidente na introdutória Always Together With You. Originalmente lançada como parte da coletânea The Space Project, a canção, agora finalizada, ganha forma em uma medida própria de tempo. São orquestrações sublimes que se completam pelo habitual coro de vozes, como um complemento direto aos versos cuidadosamente encaixados pelo artista. “Se você quer um universo / Eu seria um universo para você“, detalha em um exercício de profunda entrega sentimental.

Partindo desse delicado exercício criativo, Pierce abre passagem e aponta a direção para o restante da obra. Com a chegada de Best Thing You Never Had (The D Song), logo em sequência, o artista utiliza do mesmo refinamento estético evidente nos minutos iniciais do registro, porém, de maneira totalmente acelerada. São camadas de guitarras, sopros, batidas e vozes que garantem maior dinamismo ao trabalho. Um intenso exercício criativo que silencia somente com a entrega da música seguinte, Let It Bleed (For Iggy), composição que encolhe e cresce a todo instante, lembrando as criações do artista nos anos 1990.

Esse mesmo direcionamento nostálgico fica ainda mais evidente com a chegada de Crazy, uma balada romântica que concentra o que há de mais característico na obra de Pierce. “Querida, eu preciso que você me diga para ficar / Diga que você não vai me deixar ir / Querida, eu quero você, mas não tem jeito“, confessa. É como um respiro breve para o material entregue logo em sequência, com The Mainline Song / The Lockdown Song. Pouco menos de seis minutos em que o artista brinca com a sobreposição dos elementos, texturas e camadas instrumentais que conduzem de forma delirante a experiência do ouvinte.

Mais do que um exercício isolado, a canção abre passagem para o bloco final do registro, com o artista investindo na construção de faixas cada vez mais extensas e complexas. Exemplo disso fica bastante evidente com a chegada de The a Song (Laid In Your Arms). Em um intervalo de mais de sete minutos de duração, Pierce amplia tudo aquilo que havia testado em The a Song (Laid In Your Arms). É como um intenso turbilhão criativo, estrutura que ainda abre passagem para a derradeira I’m Coming Home Again, composição que alterna entre o conforto e a provocação, condensando os dois extremos do trabalho.

Equilibrado, como tudo aquilo que caracteriza as criações de Pierce, Everything Was Beautiful peca pela ausência de novidade e faixas que habitam um território há muito desvendado pelo músico inglês, mas que convencem pelo evidente refinamento estético. Do momento em que tem início, em Always Together With You, até alcançar a extensa música de encerramento, difícil não se deixar conduzir pela riqueza dos arranjos e lirismo confessional que orienta as criações do artista. Composições que se revelam ao público de maneira sempre discreta e sensível, ganhando novas tonalidades à medida que o trabalho avança.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.