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Crítica

Spoon

: "Lucifer on the Sofa"

Ano: 2022

Selo: Matador

Gênero: Indie Rock

Para quem gosta de: Yo La Tengo e Modest Mouse

Ouça: Wild e The Hardest Cut

7.8
7.8

Spoon: “Lucifer on the Sofa”

Ano: 2022

Selo: Matador

Gênero: Indie Rock

Para quem gosta de: Yo La Tengo e Modest Mouse

Ouça: Wild e The Hardest Cut

/ Por: Cleber Facchi 21/02/2022

Reduzir o trabalho do Spoon a uma combinação entre as guitarras de Britt Daniel e a bateria versátil de Jim Eno, membros fundadores da banda, está longe de ser um erro e de parecer um problema. Perto de completar três décadas de carreira, a dupla texana continua a investir no mesmo tipo de som que tem sido incorporado desde a entrega do introdutório Telephono (1996). A diferença está na forma como o grupo, hoje completo pelos músicos Alex Fischel (teclados, guitarra), Gerardo Larios (guitarra, teclados) e Ben Trokan (baixo, teclados), se permite provar de novas possibilidades e pequeno acréscimos em estúdio.

E isso fica bastante evidente nas canções de Lucifer on the Sofa (2022, Matador). Sequência ao material entregue em Hot Thoughts (2017),o trabalho parte do confesso desejo dos integrantes em transportar para dentro de estúdio a mesma energia presente nas apresentações ao vivo da banda. Não por acaso, o grupo fez de The Hardest Cut a primeira composição do disco a ser apresentada ao público, logo no anúncio do álbum. São guitarras e batidas rápidas, sempre acompanhadas pela poesia urgente e descritiva de Daniel, como uma combinação natural de tudo aquilo que existe de melhor e mais intenso na obra do Spoon.

Essa mesma fluidez no processo de criação acaba se refletindo durante toda a execução do material. São músicas como Feels Alright, On The Radio e The Devil & Mister Jones, com suas guitarras à la The Smiths, que orientam a experiência do ouvinte de forma essencialmente dinâmica, como uma releitura da boa fase vivida pelo Spoon em obras como Kill the Moonlight (2002), Gimme Fiction (2005) e Ga Ga Ga Ga Ga (2007). A própria ausência de possíveis excessos e curta duração do trabalho contribui para esse resultado consistente. Em Lucifer on the Sofa, tudo parece brilhantemente aproveitado pelo quinteto.

Entretanto, muito se engana quem pensa que essa maior urgência no processo de construção do trabalho faz de Lucifer on the Sofa uma obra essencialmente crua e desprovida de refinamento. E isso fica bastante evidente na introdutória Held. Enquanto guitarras e batidas calculadas apontam a direção seguida pela banda no restante do álbum, pianos ocasionais e ruídos garantem maior profundidade ao material. A própria Wild, minutos à frente, utiliza de uma abordagem similar, preservando a potência do grupo texano, porém, completa pela inserção de efeitos e distorções granuladas que ampliam os limites do registro.

Dentro desse espaço marcado pelo permanente cruzamento de informações e faixas que evidenciam a potência do som produzido pelo Spoon, interessante perceber como Daniel e seus parceiros de banda continuam a investir na produção de baladas agridoces e outras composições que se distanciam de qualquer traço de urgência. É o caso de My Babe, faixa que resgata a essência melódica de They Want My Soul (2014) e destaca a vulnerabilidade explícita nos versos. “Segure minha respiração, cante com meu coração / Bata em meu peito pelo meu amor / Deixe nossos corações baterem no compasso“, canta.

Vem justamente dessa combinação de ideias o estímulo para o fortalecimento do trabalho. Mesmo que parte expressiva do material pareça dialogar com tudo aquilo que tem sido explorado pelo Spoon desde os primeiros registros autorais, o equilíbrio e tratamento minucioso dado ao álbum torna tudo ainda mais interessante. É como se o grupo, hoje acompanhado pelo produtor Mark Rankin (Queens of The Stone Age, Bloc Party), fosse capaz de condensar o que existe de melhor dentro da própria obra, esmero que vai da construção dos arranjos à seleção do repertório que embala com naturalidade a experiência do ouvinte.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.