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Crítica

Sprints

: "Letter To Self"

Ano: 2024

Selo: City Slang

Gênero: Rock

Para quem gosta de: Yard Act e Wet Leg

Ouça: Shadow of a Doubt e Heavy

7.5
7.5

Sprints: “Letter To Self”

Ano: 2024

Selo: City Slang

Gênero: Rock

Para quem gosta de: Yard Act e Wet Leg

Ouça: Shadow of a Doubt e Heavy

/ Por: Cleber Facchi 16/01/2024

Você já sentiu como se a sala estivesse pesada? / Como se o ar estivesse quente e suado?“, questiona a vocalista Karla Chubb em Heavy. Embora parta das crises de ansiedade vividas pela artista irlandesa, difícil não pensar na composição como uma representação poética da sensação que temos ao sermos confrontados com o primeiro trabalho de estúdio do Sprints, o recém-lançado Letter To Self (2024, City Slang). São canções que partem de traumas e experiências pessoais para dialogar com o som truculento assumido pelos parceiros de banda Sam McCann (baixo), Jack Callan (bateria) e Colm O’Reilly (guitarra).

Naturalmente próximo daquilo que Yard Act, Do Nothing e outros nomes da cena europeia têm explorado em estúdio, o registro parte de uma insana combinação que vai do pós-punk da década de 1980 ao rock alternativo dos anos 1990 de forma sempre catártica. A principal diferença em relação a tantos outros projetos do gênero, sempre orientados por um contexto puramente masculino, está na forma como Chubb leva o disco para novas direções. Composições marcadas pela forte sensação de vulnerabilidade, como um acumulo das angústias, medos e vivências turbulentas que embalam o cotidiano da própria compositora.

Sexta composição do trabalho, Shadow of a Doubt cresce como uma boa representação desse resultado. Enquanto os versos funcionam como um passeio pela mente atormentada de Chubb (“Há um choro urgente na minha cabeça / Estou perdida / Isso me envolve enquanto minto / Isso me envolve enquanto sonho“), camadas de guitarras e batidas calculadas se projetam de forma a alavancar os sentimentos detalhados pela artista. Um misto de recolhimento e evidente libertação, como uma extensão natural de tudo aquilo que o quarteto havia testado nos dois primeiros EPs de inéditas, Manifesto (2021) e A Modern Job (2022).

São justamente essas pequenas variações instrumentais, alternando entre momentos de calmaria e caos, que tornam a experiência de ouvir Letter To Self tão interessante. Estruturalmente falando, não há nada aqui que outros nomes recentes já não tenham explorado de forma ainda mais provocativa e original, vide as canções dos conterrâneos do Gilla Band. Entretanto, ao criar esses bolsões de silêncio que antecedem a fúria, Chubb e seus parceiros de banda parecem conquistar um espaço particular. É como uma abordagem próxima, ainda que muito mais urgente, daquilo que PJ Harvey havia testado no início da década de 1990.

Nada que prejudique a construção de músicas como a imediata Literaly Mind, canção que dialoga com as criações do Fontaines D.C., porém, partindo de uma abordagem totalmente punk e frenética. Uma das primeiras faixas do disco a serem reveladas ao público, Adore Adore Adore é outra que chama a atenção pela fluidez dos elementos, capturando a atenção do ouvinte logo nos minutos iniciais. Nada que Up and Comer não dê conta de perverter completamente. São pouco menos de quatro minutos em que o grupo avança aos poucos, reservando para os momentos de catarse uma soma de guitarras e vozes berradas.

Tamanha ferocidade no processo de criação do álbum não apenas cumpre com a função de apresentar o som do grupo irlandês, como vai além de um típico registro de estreia. Do momento em que tem início, em Ticking, fica bastante evidente o domínio criativo e esforço do grupo trabalhar todos os elementos da obra dentro de um mesmo conjunto de temas, timbres e bases rítmicas. É como um acumulo natural de tudo aquilo que o quarteto tem explorado desde as primeiras empreitadas em estúdio, porém, elevado pela evidente sensação de entrega que rompe de forma explícita com qualquer traço de conforto da banda.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.