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Crítica

Squid

: "Cowards"

Ano: 2025

Selo: Warp

Gênero: Pós-Rock, Art Rock

Para quem gosta de: Black Midi e Slint

Ouça: Crispy Skin e Cro-Magnon Man

7.8
7.8

Squid: “Cowards”

Ano: 2025

Selo: Warp

Gênero: Pós-Rock, Art Rock

Para quem gosta de: Black Midi e Slint

Ouça: Crispy Skin e Cro-Magnon Man

/ Por: Cleber Facchi 21/02/2025

Quando você escolhe inaugurar o disco com uma música que trata sobre canibalismo e limites éticos como Crispy Skin, o senso de provocação fica mais do que claro. E é exatamente isso que os integrantes do Squid buscam desenvolver no terceiro e mais recente álbum de estúdio da carreira, Cowards (2025, Warp), obra que, diferente do próprio título, destaca o caráter exploratório e coragem da banda durante sua execução.

E isso fica ainda mais evidente com a chegada de Building 650. Embora adornada pelo uso de arranjos de cordas, a canção que reflete sobre o período de isolamento da banda no Japão em nenhum momento tende ao óbvio. São estruturas pouco usais que assumem diferentes percursos, soando como um filho bastardo do Sonic Youth com Fugazi. Instantes em que o grupo rompe com as longas composições de Bright Green Field (2021) e O Monolith (2023) para investir em uma abordagem ainda mais dinâmica e totalmente imediata.

Claro que isso não interfere na entrega de faixas que avançam em uma medida própria de tempo. É o caso de Blood on the Boulders, música que condena o fascínio pela cultura do true crime enquanto concede às guitarras a possibilidade do improviso. É como se cada elemento fosse trabalhado em uma medida própria de tempo, sem pressa, evidenciando o esforço do grupo em testar os próprios limites em estúdio, conceito reforçado nas duas diferentes partes de Fieldworks, uma contemplativa e morosa, outra crescente e fluida.

Não por acaso, passado esse momento de maior experimentação, a banda se reorganiza e firma suas bases para revelar uma das melhores composições do disco, Cro-Magnon Man. Do uso complementar das vozes da escocesa Clarissa Connelly, passando pelas guitarras funkeadas e estruturas que tendem ao krautrock, poucas vezes antes o grupo demonstrou tamanho domínio em estúdio. A própria letra da canção, marcada por um existencialismo ácido, é outra fascinante demonstração da força criativa do quinteto em Cowards.

Mesmo quando volta a desacelerar, como na faixa-título do disco, há sempre um componente energizante que concede beleza ao registro, nesse caso, os arranjos de cordas e metais que se manifestam aos poucos. São ambientações sutis, por vezes excessivamente similares ao trabalho de veteranos como Talk Talk, mas que em nenhum momento ocultam a identidade do Squid. Exemplo disso é o que acontece em Showtime!, com suas linhas de baixo suculentas, batidas rápidas e experimentações sutis com a produção eletrônica.

Um meticuloso exercício criativo que não apenas reflete o cuidado da banda em estúdio, como a produção atenta de Marta Salogni e mixagem de John McEntire (Tortoise) que destaca mesmo os elementos mais sutis da obra. A própria composição de encerramento do disco, Well Met (Fingers Through the Fence), funciona como uma boa representação desse resultado. São pouco mais de oito minutos em que arranjos, batidas e vozes se entrelaçam de forma hipnótica, elevando o que há muito parecia grandioso no trabalho do Squid.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.