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Crítica

Steve Gunn / David Moore

: "Let the Moon Be a Planet"

Ano: 2023

Selo: RVNG

Gênero: Folk, Instrumental

Para quem gosta de: William Tyler e Ryley Walker

Ouça: Over The Dune e Paper Limb

7.3
7.3

Steve Gunn & David Moore: “Let The Moon Be a Planet”

Ano: 2023

Selo: RVNG

Gênero: Folk, Instrumental

Para quem gosta de: William Tyler e Ryley Walker

Ouça: Over The Dune e Paper Limb

/ Por: Cleber Facchi 09/05/2023

Let The Moon Be a Planet (2023, RVNG) é um desses discos para ouvir na imersão dos fones de ouvido. Produto da parceria entre o violonista Steve Gunn e o pianista David Moore, do Bing & Ruth, o registro de oito faixas convida o ouvinte a se perder em meio a delicadas paisagens instrumentais que assumem diferentes formatações aos comandos da dupla de compositores. E isso fica mais do que evidente logo na introdutória Over The Dune. Pouco menos de sete minutos em que ambientações sutis e ruídos ocasionais avançam em uma medida própria de tempo, indicativo do minucioso processo de criação dos dois artistas.

Uma vez apontada a direção nos minutos iniciais do disco, Gunn e Moore se articulam na formação de um repertório marcado pelo aspecto contemplativo, porém, nunca moroso ou minimamente estático. Pelo contrário, como indicado logo na abertura do registro, Let The Moon Be a Planet é um trabalho marcado pela sensação de movimento, conceito reforçado no minimalismo de Painterly, vinda logo em sequência, mas que fica ainda mais evidente na posterior Scattering, música que parece desbravar um cenário bucólico, direcionamento bastante característico nas criações do próprio violonista em carreira solo.

Mesmo quando encolhe momentaneamente, como em Basin, há sempre um componente de ruptura que distancia o ouvinte de um resultado previsível. Inaugurada pela sutileza dos pianos de Moore, lembrando as criações de Brian Eno, a faixa aos poucos se engrandece pelos violões esparramados e pequenos acréscimos de Gunn. É como se cada compositor exercesse um papel diferente dentro de cada canção, resultando em pequenas dinâmicas e formas pouco usuais. Enquanto um assume as bases, o outro utiliza de pequenos atravessamentos instrumentais que parecem ampliar os limites de Let the Moon Be a Planet.

Quinta composição do trabalho, Morning Mare sintetiza esse resultado de forma bastante sensível. São pouco mais de sete minutos em que Gunn detalha um labirinto de sons e sensações que mais uma vez reforçam a fluidez do material. Junto do violonista, Moore surge e desaparece durante toda a execução do material, revelando ambientações densas que apontam para as criações do pianista no Bing & Ruth, vide obras como Species (2020). Frações instrumentais que evidenciam o entrosamento entre os dois artistas, mas que vez ou outra resultam na entrega de faixas pouco expressivas, menores e até mesmo deslocadas.

É o caso de Libration. Diferente do restante da obra, onde tudo parece trabalhado de forma equilibrada, a faixa chama a atenção pela forma como Gunn e Moore se sobrepõe o tempo todo, resultando em uma criação que parece montada a partir de fragmentos aleatórios, rompendo com o dinamismo expresso na introdutória Over The Dune. A própria Paper Limb, vinda logo em sequência, partilha de uma abordagem similar, porém, se destaca pelo propositado experimentalismo que ultrapassa os temas instrumentais detalhados pela dupla e chama a atenção pelo uso de captações de campo e outras interferências externas.

Não por acaso, após esse momento de maior instabilidade, Rhododendron traz o registro de volta aos eixos e pontua o trabalho de forma bastante sofisticada. Enquanto os minutos iniciais são dedicados aos pianos quase opressivos de Moore, violões radiantes contribuem para a formação de um núcleo contrastante, destacando a interferência criativa de Gunn. O resultado desse processo está na entrega de um material equilibrado e essencialmente fluido, como um regresso à introdutória Over The Dune, mas que a todo momento estabelece uma série de pistas e aponta possíveis direções para os futuros encontros da dupla.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.