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Crítica

Sun’s Signature

: "Sun's Signature"

Ano: 2022

Selo: Partisan

Gênero: Dream Pop

Para quem gosta de: Cocteau Twins e Beach House

Ouça: Golden Air e Apples

8.0
8.0

Sun’s Signature: “Sun’s Signature”

Ano: 2022

Selo: Partisan

Gênero: Dream Pop

Para quem gosta de: Cocteau Twins e Beach House

Ouça: Golden Air e Apples

/ Por: Cleber Facchi 10/08/2022

Mais de dez anos se passaram desde que Elizabeth Fraser deu vida à última composição em carreira solo, Moses. De lá pra cá, salve raras colaborações com nomes como Jónsi e Oneohtrix Point Never, nada mais foi apresentado pela cantora e compositora escocesa que influenciou diferentes gerações de ouvintes e outros artistas como integrante do grupo Cocteau Twins. Para dar fim a esse longo período de hiato, Fraser, agora acompanhada pelo marido, o multi-instrumentista britânico Damon Reece, que já esteve envolvido com veteranos como Echo & the Bunnymen e Spiritualized, deu vida a um novo projeto, o Sun’s Signature.

Embora finalizado durante o período de isolamento social, o registro de cinco faixas se espalha em um intervalo de mais de duas décadas de produção. Música de abertura do trabalho, Underwater é um bom exemplo disso. Originalmente lançada por Fraser no início dos anos 2000 e reinterpretada em 2012, quando a cantora, já acompanhada de Reece, foi convidada por ANOHNI a se apresentar no Meltdown Festival daquele ano, a composição surge agora em novo e delicado formato. São pouco menos de sete minutos em que os dois artistas brincam com a sobreposição dos elementos e vozes quase instrumentais.

Nada que se compare ao material entregue pela dupla em Golden Air. Composição que mais se aproxima do repertório apresentado pelo Cocteau Twins, a criação de essência psicodélica evidencia o esmero de Fraser e Reece durante toda a execução da faixa. Partindo de uma base minimalista, sempre regida pelas vozes etéreas da artista escocesa, a música pouco a pouco transporta o ouvinte para um cenário onde sonho e realidade se confundem a todo instante. São inserções minuciosas que mudam de direção a todo instante, como um preparativo para o refrão catártico que explode em cores, melodias e sensações.

Minutos à frente, em Bluedusk, o mesmo refinamento estético e entrega dos dois compositores, porém, partindo de uma abordagem parcialmente distinta. Marcada pelo reducionismo dos elementos, a faixa se revela aos poucos, sem pressa. Da percussão detalhista, passando pelo uso calculado das cordas e incontáveis camadas de sintetizadores, cada elemento parece pensado de forma a envolver o ouvinte, convidado a se perder em um ambiente de emanações soturnas. Mesmo a voz de Fraser ganha novo tratamento, ecoando com maior limpidez, como se pensada para valorizar cada mínimo fragmento poético.

Esse mesmo resultado acaba se refletindo em Apples. Faixa mais extensa do trabalho, a canção parte de uma base acústica e econômica, porém, ganha novos contornos à medida que Fraser e Reece passeiam pelo interior da composição. Do uso das vozes, sempre marcadas pela minuciosa sobreposição das harmonias, passando pelas guitarras que surgem em momentos estratégicos, evidente é o esforço dos dois artistas em trabalhar atentamente cada elemento. Dessa forma, mesmo estruturas há muito exploradas e talvez previsíveis dentro da extensa obra da cantora ganham novo tratamento com o Sun’s Signature.

Satisfatório perceber esse apuro técnico durante toda a execução do material. Escolhida como música de encerramento do trabalho, Make Lovely The Day utiliza de uma abordagem talvez contida quando próxima do restante da obra, porém, não menos detalhista. Enquanto o violão de Reece passeia em um espaço em branco, a voz de Fraser, mais uma vez, se revela por completo para o ouvinte. “Seja puro, meu coração / E como o sol, transmita a verdadeira luz“, canta. É como um permanente desvendar de informações, melodias e sentimentos, indicativo do profundo esmero e forte relação entre os dois parceiros de composição.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.