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Crítica

Superorganism

: "World Wide Pop"

Ano: 2022

Selo: Domino

Gênero: Indie Pop, Pop Rock

Para quem gosta de: Gorillaz e CHAI

Ouça: It's Raining e crushed.zip

6.5
6.5

Superorganism: “World Wide Pop”

Ano: 2022

Selo: Domino

Gênero: Indie Pop, Pop Rock

Para quem gosta de: Gorillaz e CHAI

Ouça: It's Raining e crushed.zip

/ Por: Cleber Facchi 01/08/2022

O som de um despertador, a interferência de um celular tocando, fragmentos de vozes, ruídos sintéticos e trechos extraídos de programas de rádio. Bastam os minutos iniciais de Black Hole Baby, música de abertura em World Wide Pop (2022, Domino), para que o ouvinte seja prontamente transportado para dentro do segundo e mais recente álbum do Superorganism. Sequência ao material entregue há cinco anos, no autointitulado registro de estreia do coletivo britânico, o novo disco estabelece no permanente cruzamento de informações um delirante componente criativo que conduz a experiência do público.

São incontáveis camadas instrumentais, quebras e diferentes costuras rítmicas que tingem com incerteza o desenvolvimento da obra. Instantes em que o grupo encabeçado por Orono Noguchi segue de onde parou no disco anterior, porém, de forma totalmente imprevisível, torta, como uma fragmentação completa de tudo aquilo que Everybody Wants To Be Famous e demais criações da banda pareciam indicar. O próprio processo de divulgação do material, com faixas apontando para os mais variados campos da música, parecia indicar esse forte caráter anárquico que ganha ainda mais destaque no decorrer do registro.

E isso fica bastante evidente na forma como o grupo estreita relações com diferentes colaboradores ao longo do trabalho. Em Into The Sun, por exemplo, nomes como o cantor japonês Gen Hoshino, o músico norte-americano Stephen Malkmus e a artista francesa Pauline de Tarragon, do Pi Ja Ma, surgem e desaparecem em um intervalo de apenas três minutos, jogando com a interpretação do público. Esse mesmo resultado ecoa de forma ainda mais caótica no pop fragmentado de Teenager, composição que se espalha em meio a sobreposições de guitarras, sintetizadores e vozes divididas com as meninas do CHAI.

Mesmo quando os membros da banda, sempre acompanhados pelos produtores John Hill (FKA Twigs, Carly Rae Jepsen) e Stuart Price (Madonna, Dua Lipa), assumem integralmente os rumos da obra, a abordagem escolhida é a mais alucinante possível. Uma das primeiras canções a serem reveladas ao público, crushed.zip é um bom exemplo disso. Partindo de uma base acústica, a faixa se transforma em um material altamente retorcido, lembrando as criações do 100 gecs. A própria música de encerramento, Everything Falls Apart, funciona como uma combinação de parte dos elementos espalhados pelo disco.

Dos poucos momentos em que perverte essa estrutura, como na contida On & On e It’s Raining, o grupo regressa ao mesmo território criativo do disco anterior. São melodias aprazíveis e versos que parecem pensados para grudar na cabeça do ouvinte logo em uma primeira audição. De fato, esse refinamento poético fica bastante evidente durante toda a execução do material. Se por um lado o álbum transita por entre estilos de forma sempre imprevisível, quando voltamos para as letras das composições, temas cósmicos e conflitos existenciais podem ser encontrados do primeiro ao último instante do registro.

Estranho e deliciosamente atrativo na mesma proporção, World Wide Pop mostra o esforço do coletivo em testar os próprios limites dentro de estúdio. Mesmo que parte expressiva dos conceitos revelados ao longo da obra ecoem de maneira ainda incompleta e talvez confusa, como uma interpretação caótica do repertório entregue no disco anterior, não são poucos os momentos em Noguchi e seus parceiros de banda capturam a atenção do ouvinte e estimulam a formação de um material que parece tudo, menos óbvio. Composições que vão de um canto a outro de forma a ampliar criativamente os horizontes do grupo.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.