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Crítica

Sweeping Promises

: "Good Living Is Coming for You"

Ano: 2023

Selo: Feel It / Sub Pop

Gênero: Indie Rock, Pós-Punk

Para quem gosta de: Dry Cleaning e Cola

Ouça: Connoisseur of Salt e Eraser

7.8
7.8

Sweeping Promises: “Good Living Is Coming for You”

Ano: 2023

Selo: Feel It / Sub Pop

Gênero: Indie Rock, Pós-Punk

Para quem gosta de: Dry Cleaning e Cola

Ouça: Connoisseur of Salt e Eraser

/ Por: Cleber Facchi 22/01/2024

Lira Mondal e Caufield Schnug já haviam atraído a atenção do público quando, no meio da pandemia de Covid-19, a dupla de Boston, Massachusetts, trabalhou no bem-sucedido Hunger for a Way Out (2020), primeiro álbum de estúdio do Sweeping Promises. Tão referencial quanto íntimo dos dois compositores, o registro parecia servir de passagem para a década de 1980, porém, corrompendo parte dos clichês que historicamente consomem esse tipo de obra. Longe do brilho neon do período, o duo decidiu investir em um repertório marcado pela atmosfera suja, porém, tão atrativo quanto outros lançamentos do gênero.

Interessante perceber em Good Living Is Coming for You (2023, Feel It / Sub Pop), segundo e mais novo álbum de estúdio do Sweeping Promisesm, um trabalho que segue exatamente de onde a dupla parou no disco anterior, porém, livre de qualquer traço de repetição. São canções que continuam a vagar pelo passado, esbarrando nas criações de veteranos como Kleenex e X-Ray Spex em um direcionamento que mesmo nostálgico, em nenhum momento deixa de parecer atual. A própria canção de abertura, Eraser, com sua poética marcada pela fragilidade emocional de Mondal, funciona como um bom exemplo disso.

São versos que tratam sobre situações de abuso, momentos de vulnerabilidade e conflitos sentimentais que, mesmo encaixados em uma base descompromissada, por vezes leve, rapidamente estreitam laços e dialogam com o ouvinte. “Você já teve a sensação de que há algo que você deveria fazer / Algum tipo de ordem cósmica que você não seguiu?“, questiona Mondal em Walk In Place, composição que sintetiza parte das angústias vividas pela artista ao longo da obra. É como um jogo de pequenos terrores existenciais, mas que a todo momento rompe com o conformismo sufocante e proporciona ao público algumas respostas.

É apenas uma sombra sobre mim / Dê um golpe nela com os dedos dos pés e das mãos“, canta Mondal em Shadow Me, música em que parte para cima dos próprios traumas, como um precioso componente de enfrentamento. A mesma força na construção dos versos volta a se repetir minutos à frente, durante a entrega de Throw of the Dice. “A ameaça de não ter mais nada a dizer aqui“, cresce a letra da canção que se completa pela força das guitarras, como uma extensão natural do material entregue no disco anterior.

Vem justamente desse maior equilíbrio entre a base instrumental e a construção dos versos a real beleza do som produzido por Mondal e Schnug em Good Living Is Coming for You. Exemplo disso fica bastante evidente em Connoisseur of Salt. Enquanto os versos mais uma vez esbarram em conflitos pessoais (“Se você recebesse tudo você queria quando queria / Isso tornaria o café menos amargo pela manhã?“), o uso complementar de um saxofone leva o disco para novas direções. O mesmo pode ser percebido na música seguinte, Walk in Place, composição que combina boas guitarras, batidas e sintetizadores com excelência.

O mais interessante talvez seja perceber que mesmo partindo desse maior refinamento na construção dos arranjos e evidente riqueza de ideias durante toda a execução do trabalho, Good Living Is Coming for You em nenhum momento rompe com a atmosfera empoeirada que parece tão característica do som produzido pela dupla estadunidense. Difícil ouvir músicas como You Shatter, Can’t Hide It e a própria faixa-título do registro e não pensar nelas como canções extraídas de algum exemplar perdido da década de 1980. Composições que parecem ter sobrevivido à passagem do tempo e chegam ao presente como novidade.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.