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Crítica

Tagua Tagua

: "Tanto"

Ano: 2023

Selo: Wonderwheel Recordings

Gênero: Indie, Soul, Pop Psicodélico

Para quem gosta de: Boogarins e Mahmundi

Ouça: Tanto, Colors e Brisa

7.0
7.0

Tagua Tagua: “Tanto”

Ano: 2023

Selo: Wonderwheel Recordings

Gênero: Indie, Soul, Pop Psicodélico

Para quem gosta de: Boogarins e Mahmundi

Ouça: Tanto, Colors e Brisa

/ Por: Cleber Facchi 15/03/2023

A leveza explícita logo nos minutos iniciais de Pra Trás, música de abertura em Tanto (2023, Wonderwheel Recordings), orienta a experiência do ouvinte durante toda a execução do segundo e mais novo álbum de Tagua Tagua. Sequência ao material entregue pelo cantor, compositor e produtor Felipe Puperi em Inteiro Metade (2020), o registro de dez faixas ganha forma em meio a ambientações sutis e arranjos caprichosos que se completam pelo romantismo agridoce dos versos. É como um lento desvendar de sensações, efeito direto do parcial isolamento vivido pelo músico gaúcho durante o processo de composição do material.

Com sessões registradas em casa e durante um período de imersão nas montanhas de São Francisco Xavier, no interior do estado de São Paulo, Tanto se revela ao ouvinte em pequenas doses. E isso fica bem representado na própria faixa-título do disco. Primeira composição do álbum a ser apresentada ao público, a música se espalha em meio a sintetizadores enevoados, guitarras sempre calculadas e a bateria pontual Leo Mattos. Instantes em que Puperi aponta para o soul psicodélico dos anos 1970, porém, partindo de uma abordagem atualizada, direcionamento que se completa pela inserção dos versos que funcionam como um passeio pela mente do próprio artista. “Encontrei um lugar / Sem sair do lugar / Sem saber onde dar“, canta.

E ela está longe de ser a única. Minutos à frente, na também delicada Me Leva, Puperi flutua em meio a delírios românticos que se completam pela instrumentação reducionista, potencializando o uso das vozes. “Imaginei teus lábios nos meus / Desalinhei / Me afoguei em ti / Fantasiei um tanto de nós“, confessa. São canções que destacam o forte aspecto sentimental dos versos, conceito que ganha forma e cresce até os minutos finais do trabalho, vide o material entregue na derradeira Te Ver. “Esperei até te ver / Encontrei tanto em você / Te levei pra ver o mar / Quis até te atravessar“, canta em meio a guitarras psicodélicas.

Com o amor como elemento central do trabalho, Puperi garante a formação de um registro de imediata comunicação com o ouvinte, mas que peca pela repetição de ideias. Do momento em que tem início, na já citada Pra Trás, tudo gira em torno dos encontros e desencontros de um casal, dando a sensação de que estamos andando em círculos. A própria base instrumental do disco, mesmo marcada pelo refinamento estético do compositor gaúcho, parece ancorada em um conjunto de ideias bastante similares. São os mesmos timbres e formatações, rompendo com a pluralidade explícita no antecessor Inteiro Metade.

Não por acaso, são os momentos em que mais se distancia desse resultado que o músico apresenta ao público algumas de suas melhores criações. É o caso Colors, canção em que utiliza do mesmo catálogo poético do restante da obra, porém, chama a atenção pelo uso de pequenas variações instrumentais, vozes sobrepostas e instantes de maior aceleração. Essa mesma fluidez no processo de composição acaba se refletindo em Brisa, faixa que rompe com o soul atmosférico do restante do disco para valorizar o uso da bateria e sintetizadores coloridos que se espalham de maneira imprevisível, atraindo a atenção do ouvinte.

Partindo dessa estrutura, Puperi garante ao público um exercício criativo livre de grandes ambições e talvez previsível em suas temáticas, mas que encanta pelo cuidado depositado pelo músico gaúcho em cada composição. São delicadas camadas instrumentais, melodias e vozes trabalhadas em uma medida própria de tempo. Mesmo nos momentos de maior aceleração e sutil busca por novas possibilidades, evidente é o esforço em garantir que o ouvinte se sinta confortavelmente acomodado, como a passagem para um ambiente particular que estabelece na suavidade do amor sua principal fonte de inspiração.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.