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Crítica

Tanukichan

: "Gizmo"

Ano: 2023

Selo: Company

Gênero: Indie Rock, Shoegaze

Para quem gosta de: Jay Som e Alvvays

Ouça: Thin Air e Don't Give Up

7.5
7.5

Tanukichan: “Gizmo”

Ano: 2023

Selo: Company

Gênero: Indie Rock, Shoegaze

Para quem gosta de: Jay Som e Alvvays

Ouça: Thin Air e Don't Give Up

/ Por: Cleber Facchi 23/03/2023

A primeira coisa que ouvimos em Gizmo (2023, Company), terceiro e mais recente trabalho de estúdio de Tanukichan, são as guitarras. E elas orientam a experiência do ouvinte durante a execução do material. Concebido durante o período pandêmico, quando Hannah Van Loon adotou o cachorro que dá nome ao disco e estampa a imagem de capa, o registro utiliza de uma abordagem distinta em relação ao antecessor Sundays (2018). Afinal, enquanto o repertório entregue há cinco anos convidava o ouvinte a flutuar, com o presente álbum, a artista mantém os dois pés firmes no chão, um deles, afundado no pedal de distorção.

Composto e produzido em parceria com Chaz Bear, o Toro Y Moi, com quem já havia colaborado no disco anterior, Gizmo é um trabalho que vai direto ao ponto durante toda sua execução. Salve exceções, como a derradeira Mr. Rain, parte expressiva das composições se resolve de maneira rápida. É o caso de Don’t Give Up. Pouco menos de dois minutos em que somos convidados a mergulhar na mente, traumas e pequenas inquietações da artista, estrutura que se completa pelo uso ruidoso das guitarras e batidas que funcionam como um complemento natural aos versos. “Apenas saiba que você está indo para um lugar melhor“, canta.

Claro que essa urgência no direcionamento dado às canções não faz de Gizmo uma obra desprovida de maior refinamento. E isso fica bastante evidente em Make Believe. Enquanto as vozes se projetam com sutileza, contrastando com a letra que trata sobre manipulação religiosa, camadas de guitarras surgem e desaparecem de forma a brincar com a interpretação do ouvinte. Esse mesmo direcionamento acontece em Like You, música em que destaca o som granulado das guitarras e sintetizadores ocasionais, como um regresso momentâneo o som explorado em algumas das principais faixas apresentadas em Sundays.

É justamente quando alcança o equilíbrio entre o material entregue há cinco anos e o presente disco que Tanukichan garante ao público algumas de suas melhores criações. Parceria com Aramis Johnson, um dos integrante do Enumclaw, Thin Air funciona como uma boa representação desse resultado. Enquanto harmonias de vozes trazem de volta o aspecto melódico do disco anterior, guitarras truculentas, sempre carregadas de efeitos, seguem a trilha apontada na introdutória Escape. Uma intensa combinação de elementos que ainda confessa algumas das principais referências criativas da artista, como The Breeders.

Esse mesmo cruzamento de informações, porém, partindo de uma abordagem transformada, acontece em Take Care. Faixa que mais se distancia do restante da obra, a canção preserva o uso barulhento das guitarras, porém, sustenta no encaixe das vozes e batidas o estímulo para o lado mais acessível do disco. É como uma interpretação menos dançante do tipo de som explorado pelo próprio Toro Y Moi. Surgem ainda músicas como A Bad Dream, composição que se distancia do som ruidoso do restante do álbum para destacar o uso das vozes e versos sempre marcados pelo forte aspecto sentimental e entrega da artista.

Com toda essa pluralidade de elementos, Tanukichan garante ao público uma obra que preserva parte expressiva dos elementos testados no último trabalho de estúdio, mas em nenhum momento ecoa de maneira repetitiva. São canções que oscilam entre momentos de maior aspereza instrumental, porém, sempre intercaladas com músicas que destacam o lado acolhedor da artista. Um registro talvez desprovido da mesma sensação de impacto causada pela apresentação de faixas como The Beste Like e The Sun, algumas das principais criações reveladas no álbum anterior, porém, atrativo durante toda sua execução.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.