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Crítica

Tatá Aeroplano

: "Boate Invisível"

Ano: 2023

Selo: Voador Discos

Gênero: Pop Rock, Synthpop

Para quem gosta de: Bárbara Eugênia e Júpiter Maçã

Ouça: Boate Invisível e Solidão Guardada

7.9
7.9

Tatá Aeroplano: “Boate Invisível”

Ano: 2023

Selo: Voador Discos

Gênero: Pop Rock, Synthpop

Para quem gosta de: Bárbara Eugênia e Júpiter Maçã

Ouça: Boate Invisível e Solidão Guardada

/ Por: Cleber Facchi 24/08/2023

Para além do trabalho em estúdio e da relação com projetos como Cérebro Eletrônico e Jumbo Elektro, Tatá Aeroplano sempre manteve um pé nas pistas de dança. DJ residente em diferentes casas noturnas da cidade de São Paulo, o artista ainda acumula passagens pelas mais variadas festas do Brasil, alternando entre composições empoeiradas e faixas recém-tiradas do forno. Não por acaso, ao mergulhar no mais recente álbum de inéditas da carreira, Boate Invisível (2023, Voador Discos), o músico paulista se aventura na entrega de um repertório que alterna entre a mais pura psicodelia e criações deliciosamente dançantes.

Embora centrado na figura e no repertório dançante de Aeroplano, o registro de dez faixas é um trabalho marcado em essência pelo forte aspecto colaborativo. Concebido a partir de um processo de imersão de cinco dias, onde o compositor, acompanhado de Bruno Buarque, Dustan Gallas, Junior Boca, Kika e Malu Maria, entrou em estúdio sem material em mãos, Boate Invisível parte de pequenos improvisos para se transformar em uma das obras mais inventivas do artista. É como um delirante exercício criativo que orienta a experiência do ouvinte até os minutos finais, no pop ritualístico da derradeira Canto Mistério.

Ainda assim, é possível dividir o trabalho em dois segmentos bastante característicos. O primeiro deles se revela logo na canção de abertura do disco, Alquimia Sensual. Do uso destacado dos sintetizadores, passando pela bateria e vozes carregadas de efeitos, Aeroplano abre passagem para o lado eletrônico da obra, como uma transposição das pistas para dentro de estúdio. É como um preparativo para o que se revela de forma ainda mais interessante na própria faixa-título, música que evoca e cita New Order nos versos, porém, preservando o lirismo agridoce que há tempos embala as criações do compositor paulista.

Entretanto, para além da relação com as pistas, Aeroplano em nenhum momento se distancia dos temas psicodélicos que tanto caracterizam suas criações, abrindo passagem para o segundo agrupamento de faixas. Perfeita representação desse resultado pode ser percebida em Coffees & Mandrix, música que utiliza de uma poesia mântrica, soando como uma composição perdida de Júpiter Maçã. Mesmo quanto investe em uma abordagem acelerada, como em No Fusca com T-Rex, tudo parece servir de ponte para os antigos trabalhos do artista, vide o material apresentado no ainda recente Não Dá Pra Agarrar (2022).

Surgem ainda criações que parecem transportar o ouvinte para um novo território criativo, como uma combinação dessas duas porções tão características do trabalho. É o caso de Gente Na Praia. Marcada pela riqueza dos arranjos, ritmos e vozes a faixa aponta para a produção brasileira dos anos 1970, porém, longe de sucumbir à nostalgia. Outra que também segue em direção ao passado é Solidão Guardada. São pouco mais de quatro minutos em que Aeroplano e seus parceiros de banda esbarram nas criações de veteranos como The Cure se necessariamente fazer disso o estímulo para uma composição ausente de identidade.

Trabalho mais diverso do cantor desde o material entregue em Vamos Pro Quarto (2023), último álbum como integrante da Cérebro Eletrônico, Boate Invisível destaca a capacidade do compositor paulista em transitar por entre estilos de forma sempre imprevisível, torta. Mesmo pontuado pela inserção de faixas que parecem deslocadas do restante da obra, caso da atmosférica Sonho de Artaud e Rio Voador, canção que soa mais como uma sobra dos primeiros registros produzidos pelo artista em carreira solo, uma vez apresentado ao sempre insano repertório de Aeroplano, cada nova composição serve de passagem para a música seguinte, orientando e estimulando de maneira totalmente delirante a interpretação do ouvinte.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.