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Crítica

Tatá Aeroplano

: "Não Dá Pra Agarrar"

Ano: 2022

Selo: Independente

Gênero: Rock Psicodélico

Para quem gosta de: Bárbara Eugênia e Júpiter Maçã

Ouça: Chá Delícia e Na Beleza da Vida

7.8
7.8

Tatá Aeroplano: “Não Dá Pra Agarrar”

Ano: 2022

Selo: Independente

Gênero: Rock Psicodélico

Para quem gosta de: Bárbara Eugênia e Júpiter Maçã

Ouça: Chá Delícia e Na Beleza da Vida

/ Por: Cleber Facchi 19/07/2022

A urgência explícita na introdutória Discrepância, composição de abertura em Não Dá Pra Agarrar (2022, Independente), é mais do que suficiente para arremessar o ouvinte para dentro do novo álbum de Tatá Aeroplano. Sequência ao material entregue no denso Delírios Líricos (2020), o trabalho que conta com coprodução de Dustan Gallas, Junior Boca, Bruno Buarque e do próprio artista, potencializa o há de mais insano na obra do cantor e compositor paulista. São canções totalmente alucinadas e existencialistas, como um regresso aos momentos de maior delírio vividos pela Cérebro Eletrônico, antiga banda do músico.

Exemplo disso fica ainda mais evidente em Chá Delícia, terceira composição do disco. São pouco menos de quatro minutos em Aeroplano e seus parceiros de estúdio brincam com as possibilidades. “Bebendo um chá delícia / Tomando chá de cadeira / Cortando ondas na praia / Chapando na corredeira“, cresce a letra da canção, como um mantra psicodélico que se completa pela base dançante de sintetizadores, batidas quentes e o saxofone complementar de Márcio Resende. É como um convite a se perder em um universo de pequenos excessos, conceito bastante similar ao repertório apresentado em Vamos Pro Quarto (2013).

Uma vez transportado para dentro desse cenário que nos faz questionar a própria realidade, Aeroplano faz de cada composição um curioso exercício criativo. São músicas contrastantes, direcionamento que concede ao disco um precioso andamento rítmico. Instantes em que o compositor paulista vai da euforia em Solta o Desejo, canção que parece saída de um antigo programa de auditório dos anos 1980, para mergulhar no som empoeirado de Nosso Quarto Mundo, faixa que evoca as criações de Sérgio Sampaio e aponta para os primeiros registros do cantor em carreira solo, como Na Loucura & Na Lucidez (2014).

Dos poucos momentos em que perverte esse delirante atravessamento de informações, Aeroplano abre passagem para o lado mais contemplativo do trabalho. É o caso de Na Beleza da Vida, segunda faixa do disco. Enquanto os versos compostos por Yrahn Barreto evidenciam o lirismo existencial que borbulha ao longo da obra (“Nasceu meu corpo / Na beleza da vida / E foi dela perdida / Que renasceu de novo“), orquestrações sublimes surgem e desaparecem de forma a potencializar a sensibilidade dos temas. É como um preparativo para a sequência de canções entristecidas que ocupam todo o bloco final do registro.

São músicas como Cantando Para A Vida Encontrar Sentido, Chama Solidão e Tempo Que Não Cabe Em Nós em que Aeroplano regressa ao mesmo território criativo do antecessor Delírios Líricos. Canções que partem das angústias e tormentos vividos durante o período pandêmico de forma bastante delicada, como um diálogo do artista com o próprio ouvinte. “Vejo os discos na parede / Choro a alma que não veio / Sento a vista na varanda / E me calo até você chegar“, canta. Mesmo a base instrumental utiliza de uma abordagem contida, estrutura que invariavelmente convence, porém, tende ao uso de pequenas repetições.

Típica obra de Aeroplano, Não Dá Pra Agarrar estabelece nesse permanente cruzamento de informações e diálogos com diferentes colaboradores, como as cantoras Bárbara Eugenia e Malu Maria, um natural estímulo para a construção do repertório apresentado pelo artista. São composições que, mais uma vez, oscilam entre momentos de calmaria e caos, estabelecem pequenas conexões com os antigos trabalhos apresentados pelo cantor e referenciam diferentes nomes da música brasileira. É como um resumo torto de tudo aquilo que o compositor paulista tem revelado ao público em mais de duas décadas de carreira.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.