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Crítica

Taxidermia

: "Vera Cruz Island"

Ano: 2024

Selo: Independente

Gênero: Art Rock, Experimental

Para quem gosta de: Juçara Marçal e Giovani Cidreira

Ouça: Clarão Azul, Sangue Fervendo e Tremedêra

8.2
8.2

Taxidermia: “Vera Cruz Island”

Ano: 2024

Selo: Independente

Gênero: Art Rock, Experimental

Para quem gosta de: Juçara Marçal e Giovani Cidreira

Ouça: Clarão Azul, Sangue Fervendo e Tremedêra

/ Por: Cleber Facchi 29/05/2024

Localizada na Ilha de Itaparica, na Bahia, com vista para a capital Salvador, Vera Cruz é um espaço físico e, ao mesmo tempo, um campo aberto às possibilidades sonoras da dupla formada por João Miliet Meireles e Jadsa no Taxidermia. Parceiros de longa data, os dois compositores estabelecem nesse ambiente litorâneo e conceitual o estímulo para o fino repertório de Vera Cruz Island (2024, Independente), disco que transita por diferentes estilos e estabelece no intenso caráter exploratório a base para cada uma de suas canções.

Inaugurado de forma sutil, partindo das abstrações e vozes eletrônicas de Pureza, Vera Cruz Island é um trabalho que se revela aos poucos, porém, estabelece na construção dos versos uma clara celebração ao povo baiano e sua herança cultural. “Puro, todo feito ele de matéria nobre / Corpo, preto nascido por pura sorte na Bahia / Sangue, de riqueza homem munido de corre“, canta Jadsa em meio a batidas, camadas de sintetizadores e estruturas irregulares que aos poucos arremessam o ouvinte de um canto a outro do disco.

São músicas essencialmente curtas, resolvidas em um intervalo de poucos minutos, porém, dotadas de uma complexidade única, como um acumulo natural do que existe de mais provocativo no tipo de sonoridade incorporada por cada colaborador. Enquanto Jadsa traz de volta a mesma poesia descritiva que marca as canções de Olho de Vidro (2021), dando vida a formações geográficas, sentimentos e estruturas orgânicas inanimadas, Meireles brinca com a permanente fragmentação dos elementos, como em um remix torto.

O resultado desse processo está na entrega de uma obra essencialmente ampla, ainda que concisa, efeito direto da escolha da dupla em trabalhar em cima de temáticas que se repetem, porém, estabelecem na alternância dos versos ora cantados em inglês, ora cantados em português, uma importante ferramenta de trabalho. É como a passagem para um território particular, proposta que esbarra em elementos antes incorporados nos dois primeiros EPs da dupla, mas que em nenhum momento deixa de encantar o ouvinte.

Parte dessa sensação vem da escolha da dupla em ampliar o próprio campo de atuação e estreitar laços com diferentes parceiros criativos. Em Clarão Azul, por exemplo, são os arranjos complementares da sergipana Tori e o músico paulistano Pedro Bienemann. Na crescente 3 P.M., no miolo do disco, rimas do conterrâneo Rei Lacoste levam a canção para outras direções. Nada que se compare à insana Sangue Fervendo, caótica colaboração com Vírus e Vuto que rompe com qualquer traço de conforto do material.

Produto final de uma parceria que teve início há mais de quatro anos, quando Jadsa e Meireles se uniram para dar vida às primeiras composições do Taxidermia, Vera Cruz Island potencializa tudo aquilo que foi explorado nos registros que o antecedem e, ao mesmo tempo, deixa o caminho aberto para as futuras empreitadas da dupla baiana. São ideias em constante processo de transformação, como um precioso indicativo de que a jornada poética e instrumental iniciada pelos dois artistas está apenas começando.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.